“Aprender a conviver com esta nova realidade”

Em entrevista ao Empresas +®, Manuel Avelar Santos, presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa, nos Açores, fala sobre os desafios que a Covid-19 trouxe ao Município e relata a forma corajosa como todos os habitantes estão a “aprender a conviver com esta nova realidade”.
Manuel Avelar Santos, presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa, nos Açores, assegura que, em termos gerais, o balanço da luta contra a pandemia no concelho é positivo. “Os nossos munícipes foram capazes de responder afirmativamente às indicações da Direção Regional de Saúde e souberam cumprir, quase na sua totalidade, todas as regras definidas para que o vírus não se propagasse”.
Nesta luta desigual, o autarca advoga que, desde o primeiro momento, a Autarquia quis prestar todo o apoio aos seus munícipes, em especial àqueles que pertencem aos grupos de risco. “Reunimos, desde logo, com a Autoridade Regional da Proteção Civil que, por si só, engloba representantes de todas as forças de segurança e do próprio Governo Regional, para que atuássemos de forma conjunta, fator vital para o sucesso deste combate. Paralelamente, a 9 de abril, levámos a reunião de Câmara um conjunto de medidas preventivas que nos permitiram ajudar todos os graciosenses numa contenda como esta”. Manuel Avelar Santos dá como exemplo a decisão tomada de oferecer a todos os munícipes, em abril, maio e junho, o consumo de água do primeiro escalão. Para as unidades industriais, o preço foi reduzido em 30 por cento também no primeiro escalão, enquanto as cerca de 40 associações culturais, desportivas e recreativas concelhias ficaram dispensadas de pagamento. “O único custo que mantêm é a taxa de disponibilidade e nada mais, porque não nos é possível fazer nada em relação a ela, mas o valor é irrisório”, explica. O autarca não esqueceu ainda o setor social, bem como os dois lares existentes, da responsabilidade das Santas Casas da Misericórdia, que também ficaram isentos de pagamento.
Quanto aos serviços municipais, segundo Manuel Avelar Santos, a primeira decisão foi o recurso ao teletrabalho. Depois disso, quando a situação estabilizou, o Município voltou ao atendimento presencial, mas sempre com todas as medidas de prevenção acauteladas. “Este é um processo em constante mutação, sendo que estamos atentos para implementar ações de melhoria sempre que necessário. Esta nova realidade fez com que melhorássemos, em muito, as nossas ferramentas de atendimento on-line e, de facto, realizamos muitos atendimentos através da Internet. Tivemos de nos reinventar, mas o balanço é muito positivo”.
O autarca assevera que a Autarquia enfrentou também o desafio do regresso às aulas com êxito, uma vez que prestou toda a colaboração solicitada pelas escolas. “Já tínhamos apoiado alunos e instituições de ensino com alguns equipamentos e também solicitámos ao Governo Regional que procedesse ao reforço do serviço gratuito de wi-fi. Era importante que, a breve trecho, toda a ilha tivesse acesso à Internet em sinal aberto. Ainda que este novo modelo não seja o ideal, é o possível neste momento para criar as condições de trabalho necessárias para os nossos alunos que pretendem ingressar no ensino superior”.
Mais medidas de apoio
Quanto ao Mercado Municipal, Manuel Avelar Santos afirma que a Autarquia reduziu, em 50 por cento, o valor das rendas de todas as lojas, ao passo que, na Praça Fontes Pereira de Melo, as esplanadas que estiveram fechadas, assim como os quiosques com atividades ligadas ao turismo ficaram isentas de pagamento até à sua reabertura. Ainda que as duas grandes áreas de desenvolvimento económico da Graciosa sejam a agropecuária e a pesca, o autarca reitera que o turismo é um fator de desenvolvimento vital para a economia da região, pelo que, “se não havia turismo, não fazia qualquer sentido que as empresas continuassem a ter este custo. As nossas grandes festas, que contribuem todos os anos para uma enorme dinamização da economia local, foram também canceladas. Ainda tentamos protelar esta tomada de decisão, mas chegamos à conclusão de que não existiam condições higiénico-sanitárias para que a deliberação pudesse ser outra. O Município não poderá ser o responsável pela criação de condições para a propagação do vírus”.
O autarca afirma que, nos últimos anos, ao nível do turismo, a ilha tem dado passos pequenos, “mas firmes e de qualidade, o que faz com que esta área tenha um peso cada vez maior na economia local. O ano transato, de 2019, foi de crescimento exponencial no nosso turismo local e de natureza, vocacionado para nichos muito específicos no mercado da qualidade. A verdade é que a Graciosa sabe receber muito bem todos os seus visitantes. Gosto de ser otimista, contudo, também temos de ser realistas e reconhecer que, este ano, voltaremos ao turismo do «vá para fora cá dentro», pelo que esperamos que grande parte dos nossos visitantes sejam portugueses. Espero que venham todos visitar a Graciosa e conhecer esta ilha única, Reserva da Biosfera, repleta de trilhos e de águas límpidas”.
Conviver com a nova realidade
Apesar de todas as medidas e cautelas, e de se mostrar otimista em relação ao futuro, o autarca confessa que teme que o desemprego possa aumentar nos próximos meses, ainda que tenha a certeza de que o Governo Regional irá tomar todas as medidas ao seu alcance para que esta situação não aconteça. “Apesar de todos os esforços, sabemos que existem empresas com vínculos contratuais precários. Contudo, estou convicto de que se a economia apresentar sinais de retoma, os números do desemprego, este ano, não irão subir em demasia. Nos meses de verão, temos muitos produtos que tradicionalmente exportamos e acredito que isso irá fazer com que a nossa balança comercial estabilize. Neste momento, a taxa de desemprego está estável. O Governo Regional percebeu que é preferível apoiar agora as empresas, a ter de apoiar no futuro os muitos desempregados. A verdade é que faremos de tudo para apoiar os nossos munícipes naquilo que estiver ao nosso alcance. O caminho faz-se caminhando e aprendemos todos os dias. Ninguém estava verdadeiramente preparado para uma situação como esta. Ainda que ninguém seja isento de falhas, as autoridades regionais têm dado o seu melhor para minimizar os danos provocados por este vírus e a verdade é que a informação não falta e que as entidades estão sempre disponíveis”.
Ainda que o número de contágio seja muito baixo na região, Manuel Avelar Santos mostra preocupação com a retoma das deslocações interilhas. “No futuro também serão retomadas as viagens junto das nossas comunidades de emigrantes. Claro que eles serão sempre bem-vindos, contudo, teremos de ter cuidados redobrados. Seja como for, teremos de aprender a conviver com esta nova realidade, o que implicará uma colaboração suplementar entre todas as entidades, tudo para que possamos atingir os melhores resultados”.
Ainda quanto ao futuro, o autarca que está a cumprir o seu último mandato, revela que espera que a Graciosa continue a desenvolver-se. “Vamos deixar alguns projetos prontos para que o próximio Executivo possa concretizar e a Graciosa continue a ser uma ilha hospitaleira, onde se possa viver com segurança, com paz e alegria. Quanto aos graciosenses, o meu desejo é o de que continuem a colaborar com as autoridades, para que o vírus não se propague na ilha e possamos continuar a viver com saúde e a bem receber todos aqueles que nos visitam”, conclui.