Cada um sabe as linhas com que se cose

É uma tradição secular, os famosos bordados da ilha da Madeira.
O Bordado Madeira é um dos símbolos mais icónicos desta região autónoma e é também uma referência dos produtos nacionais no estrangeiro, já que é conhecido em todo o mundo, especialmente em países como a Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha, Itália e Suíça. Deve-se a uma senhora, Miss Phelps, a promoção do bordado no mercado londrino e o facto de ter procurado adaptar os padrões bordados ao gosto dos clientes.
Uma das fábricas de bordados existente na ilha é a João Eduardo de Sousa, Lda. A empresa foi fundada a 27 de Agosto de 1946 e ao longo dos mais de 70 anos de história sempre produziu várias gamas de produtos: criança, bebé, souvenirs, roupas de cama, mesa, sendo que os desenhos são adaptáveis e transversais a cada um deles.
Mão de obra cada vez mais envelhecida
Hoje em dia, o representante máximo da empresa é Miguel Sá e Sousa. A sua família é a detentora da empresa João Eduardo de Sousa, Lda há 23 anos e considera este trabalho como sendo “ex-líbris da Madeira, pois é um produto único e rico”. No entanto, aponta a falta de mão de obra jovem e qualificada como um problema que está a afetar esta indústria.“Há cada vez menos pessoas a quererem ser bordadeiras. Os jovens formam-se mais do que nunca e não se querem sujeitar a ter um posto de trabalho destes, onde os salários são baixos. Já não se pode trabalhar da mesma forma como se trabalhava noutros tempos”.
Um problema nunca vem só
Outro dos problemas que afeta este mercado está dentro do próprio setor de atividade. A cópia de desenhos nos bordados por parte de outras empresas, associada à falta de registo de patentes, faz com que seja muito difícil para uma empresa vender produtos originais.
“Hoje em dia até já se vê bordado que não é feito na Madeira parecido ao nosso, mas que um bom conhecedor, consegue destrinçar”, revela Miguel Sá e Sousa, que prevê ainda que se o cenário não se alterar exista mesmo a possibilidade da produção de bordados se tornar obsoleta num futuro próximo. “Neste momento, já não é possível para uma nova bordadeira, se inscrever como bordadeira de casa. Esta passa a empregada ao domicílio como bordadeira de casa”, conta.
É possível que, num espaço de 15 anos, a produção acabe. Já há 30 anos, um distinto e reconhecido cliente italiano dizia: “A Madeira tem de proteger esta galinha dos ovos de ouro ou então isto mais cedo ou mais tarde vai acabar.
É necessário se fazer muito mais para preservar esta digna herança, que tanto nos orgulha”, assinala.
As soluções para inverter a situação
Apesar de todas as adversidades já mencionadas, a João Eduardo Sousa, Lda persiste. As soluções encontradas para tentar inverter este cenário passam, segundo Miguel Sá e Sousa, por começar a considerar o bordado como um artigo de luxo, priorizando a qualidade de produção. “Internacionalmente, o trabalho manual é reconhecido como um produto de qualidade. As potencialidades do Bordado Madeira são elevadas, mas é preciso haver investimento no setor e gente com qualificações que queira trabalhar na área. Já não há gente como antigamente”, assinala o empreendedor, que também não esquece o mundo digital. “Estamos a criar mais uma ferramenta de divulgação, como um site para fortalecer a nossa presença na Internet, para além do Facebook. Tenho ainda que ir procurando outras soluções para inverter este cenário, mas ainda não sei ao certo por onde passará essa solução”. Contudo, considera que uma das estratégias seria “uma aposta nos escalões etários mais jovens, criando-se clubes, nas escolas, juntas de freguesia, casas do povo, onde se ensinasse as várias técnicas e processos de fabrico e produção do Bordado Madeira”, para além da promoção de uma semana temática e alusiva à demonstração de todos os passos que originam este fabuloso produto madeirense.