Concelho com qualidade de vida

Depois de, aproximadamente, quatro anos à frente dos destinos do Município de Barrancos, João Serranito Nunes, 72 anos de idade, despede-se da Autarquia, uma vez que não será candidato nas próximas eleições. O autarca explica que “apesar de ter sido uma experiência enriquecedora, ainda tenho projetos pessoais que quero cumprir”.
“É incontornável que, a atual pandemia condicionou a vida de todos os portugueses e da comunidade, de uma forma muito mais profunda do que aquela que possa parecer numa primeira análise. Tínhamos muitos projetos delineados que tiveram que ser adiados, nomeadamente alguns ligados à captação de empresas para a criação de novos postos de trabalho que, infelizmente, não se concretizaram e é essa a minha maior mágoa. Com as empresas a entrarem em lay-off e obrigadas a dispensar pessoas, foi impensável a sua expansão. Lamento não ter conseguido dar a possibilidade aos mais jovens de ficarem no concelho”, admite João Serranito Nunes, presidente da Câmara Municipal de Barrancos, que completa: “Ainda que a nossa localização geográfica possa parecer penalizadora para quem labora apenas no mercado nacional, para as empresas que estejam voltadas para a exportação, a nossa localização passa a ser uma mais-valia, uma vez que estamos numa das portas de entrada terrestre da Europa. Este é um fator diferenciador e que deve continuar a ser explorado.”.
Para o autarca, se há 40 anos os municípios do Interior clamavam por boas acessibilidades rodoviárias, hoje, ainda que estas sejam importantes, “são vitais as autoestradas da informação e o acesso ao 5G”. O presidente considera que a comunicação digital é uma oportunidade para o território. “Precisamos efetivamente de mais emprego. Contudo, estou confiante de que, no futuro, com o recurso às novas tecnologias seremos capazes de reter aqui as pessoas, ao mesmo tempo que atraímos mão de obra qualificada que vai escolher fazer aqui a sua vida. Atualmente, estar longe dos centros urbanos pode ser um trunfo para um território como o nosso. Detemos equipamentos sociais e educativos, entre outros, que asseguram um bom nível de qualidade de vida aos nossos munícipes. Aqui as pessoas não têm que se preocupar com o trânsito, a poluição, não demoram duas horas a chegar ao seu local de trabalho e têm tempo para o lazer, a cultura, o convívio social e a prática desportiva. Esse privilégio existe em Barrancos, mais-valia que foi muito valorizada com a pandemia. Estando em regime de teletrabalho as pessoas podem estar em qualquer lugar”.
João Serranito Nunes considera que o facto de Barrancos ser um município de pequena dimensão também permitiu, no início da pandemia, elaborar um plano de contingência envolvendo todas as entidades da primeira linha de intervenção. Perante os primeiros casos reunimos com todas as entidades competentes e definimos o plano de ação, porque percebemos que esta doença é grave e que as suas consequências são nefastas”. O Município distribuiu kits de proteção por toda a população e equipamentos de proteção individual às diversas instituições, sendo que também disponibilizou meios humanos, logísticos e financeiros para que estas entidades “estivessem equipados e preparados para responder às necessidades dos seus utentes”. Além disso, foram ainda fornecidos testes, sempre que necessário.
O autarca explica que o Município também criou um Banco de Voluntariado, informal, que colaborou com os funcionários da Câmara na entrega de alimentos, medicamentos e na prestação de outros serviços a todos aqueles que estavam confinados. Também não esquecemos os nossos empresários e criámos várias medidas de apoio à economia local. Não digo que todos os problemas criados pela pandemia foram resolvidos, contudo, foram minimizados. Ainda assim, não há milagres.
Apesar de não ser candidato nas próximas eleições, João Serranito Nunes reconhece que quatro anos é pouco tempo para fazer obra, “pior ainda quando metade do mandato é passado no combate a uma pandemia. Concordo que mandatos de seis anos seriam mais ajustados, pelo que defendo que a lei deve ser revista. Os primeiros anos servem para identificar e conhecer a dimensão real dos problemas do concelho, para os estudar aprofundadamente por forma a definir as melhores soluções e encontrar fontes de financiamento. No fundo, colocar o sistema a funcionar”.
O autarca sublinha ainda que a carga burocrática existente no nosso país também é muito elevada, o que “torna os processos muito morosos, sendo que uma gestão de proximidade não se compadece com estes entraves e dificuldades”.
João Serranito Nunes é perentório: “Saio de consciência tranquila porque fizemos tudo aquilo que estava ao nosso alcance. Fizemos o melhor que conseguimos, dadas as circunstâncias e reconheço que esta foi uma experiência enriquecedora. De futuro, vou dedicar-me à minha família, aos estudos e aproveitar o dia a dia. Ainda tenho projetos pessoais que quero concretizar, pelo que a idade que tenho não se coaduna com o cumprimento de mais um ou dois mandatos. Sei que as pessoas estão sensíveis e percebem os meus motivos. Tenho que dar lugar aos mais novos, até porque acredito que é deles o futuro”.