Concelho de potencialidades a explorar

António Machado tomou posse como presidente da Câmara Municipal de Almeida em 2017. Olhando para trás, o autarca reconhece que este foi um primeiro mandato repleto de desafios, até porque durante metade do tempo teve que combater a atual pandemia.
Apesar disso, António Machado mostra-se confiante em relação ao futuro até porque preside um concelho repleto de potencialidades a explorar.
Olhando em retrospetiva para estes quatro anos e para a forma como a atual pandemia condicionou este mandato, António Machado, presidente da Câmara Municipal de Almeida, revela que os projetos delineados sofreram atrasos. “A covid tornou mais difícil o nosso relacionamento com as instituições, com o Estado Central, o que fez com que a aprovação dos projetos tenha sido protelada. Além disso, a sua operacionalização também ficou dificultada com a atual pandemia. Paralelamente, toda a burocracia que ainda existe no setor público também não permitiu que os projetos pudessem avançar de imediato”.
Ainda assim, o autarca grande que o objetivo principal do Executivo foi sempre o da melhoria da qualidade de vida de todos os munícipes, ao mesmo tempo que tenta combater a difícil problemática da despovoação e do êxodo que se tem verificado em relação ao Interior do País. “As medidas tardam em chegar por parte do Governo Central. Ainda que alguns programas estejam já desenvolvidos, a verdade é que estes ainda não estão implementados no terreno. Urge acelerar as várias políticas de coesão e de intervenção nos territórios do Interior, sendo que o conceito de Interior também tem que ser devidamente definido: Este não pode ser considerado como o território logo à saída de Lisboa, Porto e Braga. Têm que ser tidos em conta os índices de crescimento e de desenvolvimento e de crescimento da população. A intervenção do Estado tem que ser muito mais efetiva para se conseguir inverter esta tendência que é grave para o País”.
Projetos de parceria
António Machado assevera que todos os projetos aos quais o Município se candidatou e para os quais obteve acesso a fundos comunitários foram todos já executados ou estão em curso. A exceção, segundo o autarca, prende-se com uma obra “importante”: a requalificação do Parque TIR em Vilar Formoso e a ligação à autoestrada, empreitada que ainda está em projeto e em fase de negociações com a Tutela para definição do valor efetivo do apoio que será concedido à obra. Esta intervenção enquadra-se no âmbito do Projeto Integrado de Intervenção, Reabilitação e Revitalização da Zona de Fronteira de Vilar Formoso, devido à construção do troço final da autoestrada A25. “Estamos confiantes de que essa definição poderá acontecer no decorrer dos próximos meses. Este é um projeto vital para o concelho e para a região e acredito que o Estado está sensibilizado para esta questão até porque o Poder Central tem a obrigação de investir nesta obra”, advoga o presidente que esclarece que a Autarquia, por sua vez, já demonstrou disponibilidade e interesse em realizar a futura gestão do espaço, garantindo a qualidade e a segurança de todo o espaço e da sua utilização. “Este investimento é essencial para que os transitários e operadores logísticos continuem a apostar economicamente na região, até porque este é um ponto fronteiriço de referência a nível nacional. Este investimento pode potenciar, no futuro, a instalação em Vilar Formoso de soluções logísticas para a rede de transportes. Aguardamos com expetativa pela decisão e temos esperança que o projeto avance ainda este ano”, completa.
De acordo com António Machado, o Município está ainda envolvido, juntamente com o município de Ciudad Rodrigo, na criação de uma eurocidade, que possibilitará a realização de projetos comuns que promovam o desenvolvimento do território dos dois lados da fronteira. O projeto da Eurocidade “Porta da Europa” abrange as vilas de Almeida e de Vilar Formoso e as localidades espanholas de Fuentes de Oñoro e Ciudad Rodrigo. “Este é um passo importante para a definição de uma estratégia de desenvolvimento económico deste território, sendo este mais um contributo em prol da cooperação transfronteiriça, pois permitirá a realização de um trabalho conjunto para a dinamização empresarial, a planificação e gestão conjunta de recursos humanos em determinadas áreas e o desenvolvimento de um plano “Almeida – Ciudad Rodrigo, Plano Estratégico de Fortificações” e, de realização de eventos. Este projeto tem ainda como objetivo estabelecer mecanismos de gestão e revalorização do território, com capacidade de fixar e atrair população, de criar e consolidar dinâmicas de emprego, bem como garantir a fixação de investimento de base produtiva e implementar medidas que eliminem ou minimizem os custos de contexto que tanto penalizam as empresas e os cidadãos locais”, esclarece o autarca.
Por sua vez, os investimentos já concretizados, segundo o presidente, estão ligados ao incremento da qualidade de vida de todos os munícipes e à potenciação do turismo natureza, “vetor muito importante da nossa economia, sobretudo quando conjugado com o turismo de património e turismo cultural até porque a nossa candidatura a Património da Humanidade da UNESCO decorre a bom ritmo, sendo que a comissão portuguesa de candidaturas considera o projeto de Almeida muito interessante e com qualidades para que possa ser proposto para apreciação pelo Estado Português. Esperamos que a Tutela tenha esta visão e apoie esta candidatura que até pode ultrapassar fronteiras e incluir a vizinha Espanha, uma vez que as cidades de Ciudad Rodrigo e Olivença já demonstraram esse interesse, o que irá transformar esta candidatura nacional em transnacional. Esta é uma candidatura da raia portuguesa que também contempla também os municípios de Valença e Marvão”. António Machado lembra que esta não será a primeira vez em que existe esta cooperação entre os dois países e que esta parceira já obteve sucesso anteriormente quando Foz Côa (Portugal) e Siega Verde (Espanha) receberam esta distinção. “A nossa expetativa é que a candidatura possa ser submetida para aprovação em 2022. Consideramos ter hipóteses legítimas do nosso objetivo ser alcançado terminando, assim, da melhor forma um trabalho que iniciámos já há alguns anos”, acrescenta o autarca.
A pandemia penalizou a fronteira
“A pandemia foi sentida em Almeida de forma muito diferente daquela que foi sentida em grande parte do País, uma vez que as suas consequências foram muito mais prementes nas regiões transfronteiriças. As condições sanitárias e a evolução epidemiológica tiveram no concelho proporções muito maiores. Na primeira vaga, o encerramento das fronteiras levou à completa estagnação da economia local. Economicamente, Almeida depende muito dos visitantes e da dinâmica que é criada na fronteira. Em junho de 2020, quando reabriram as fronteiras passou a haver vida novamente no concelho. Contudo, quando todo o País voltou a confinar em janeiro, nós já estávamos fechados desde outubro, devido a restrições impostas por Espanha que tentava também controlar a pandemia. Assim, as consequências do encerramento do País em janeiro começaram a ser sentidas em Almeida três meses antes. Se os nossos munícipes que trabalham na agricultura continuaram a laborar, ainda que com muito mais dificuldades, uma vez que os preços caíram, o nosso setor da restauração e dos serviços enfrentou um encerramento total, o que foi muito penalizador”, reconhece António Machado.
O autarca sublinha que, perante este cenário, o Município teve que avançar com apoios à economia local que serão concedidos até setembro deste ano através do Programa de Apoio ao Comércio, Restauração e Hotelaria “Manter Aberto”. Este programa prevê apoios para o comércio tradicional e comércio a retalho, para a hotelaria e para o setor da restauração. A estimativa de António Machado é de que, até à conclusão deste programa, sejam concedidos apoios no valor de 200 mil euros que se direcionam sobretudo para o apoio ao pagamento de rendas e de gastos com a eletricidade, até ao valor máximo de 200 euros por mês, sendo que também está prevista a isenção do pagamento de água, saneamento e resíduos sólidos.
Quanto à campanha de vacinação, o autarca garante que esta está a decorrer de forma muito positiva no concelho, até porque o trabalho efetuado por todos os intervenientes tem sido de grande valia. “Tenho que enaltecer o trabalho que o Centro de Saúde de Almeida e a Extensão de Saúde de Vilar Formoso têm levado a cabo, assim como sublinhar a flexibilidade que têm demonstrado perante a disponibilidade de vacinas para inocular na população. Esta disponibilidade foi um fator determinante para o êxito que esta campanha está a ter”, enaltece António Machado.
Concelho com elevado potencial
Quanto ao futuro, o autarca revela que a aposta passará pela consolidação dos projetos já apresentados e que estão atualmente em curso. Para além disso, o Executivo pretende dar ênfase e apostar no incremento da qualidade de vida na saúde e na terceira idade. “O nosso território está envelhecido, pelo que necessita de um cuidado muito mais próximo do que aquele que temos conseguido dar. Queremos estar ainda mais próximos das populações. Acredito que os projetos que estamos a levar a cabo e as mudanças que pretendemos implementar podem mudar a nossa economia, criando mais emprego. Prevejo um futuro mais risonho para todos aqueles que escolhem o Interior para viver e, eventualmente, para aqueles que queiram regressar”. Neste sentido, António Machado considera que será de vital importância o já mencionado projeto de logística a implementar em Vilar Formoso. “Temos recebido contatos de diversos empresários que pretendem instalar-se no concelho, investindo no território e tirando partido da localização estratégica que possuímos no contexto da Península Ibérica. Estamos no Eixo Atlântico e a nossa posição é fulcral para todas as empresas que pensam em exportação”.
O autarca garante que, para além disso, o concelho tem um elevado potencial ao nível do turismo natureza que ainda não está a ser devidamente explorado e que deve ser conjugado com todo o património histórico que Almeida também encerra, pelo que este será um setor em que o Executivo também pretende investir a curto prazo. “Vivemos num território com muito potencial que ainda não conseguimos consolidar de forma a conseguirmos, de alguma forma, travar o despovoamento. Esta é a principal batalha que temos que continuar a travar. Já asseguramos as condições necessárias de garante da qualidade de vida: educação, saúde, meios de comunicação e transportes, ação social e meio ambiente, contudo, ainda precisamos de investir na criação de emprego para que os nossos jovens optem por ficar em Almeida e aqui construírem o seu projeto de vida”, conclui.