concelho repleto de potencialidades a explorar
Em entrevista ao Empresas+®, Carlos Ascensão, presidente da Câmara Municipal de Celorico da Beira, faz o balanço do seu primeiro mandato à frente dos destinos desta Autarquia do Interior do País que se debate com problemas como a desertificação e um elevado endividamento que já se encontra em fase de regularização. Apesar disso, o autarca defende que Celorico da Beira é um concelho repleto de potencialidades a explorar, desafio que espera levar a cabo nos próximos quatro anos, se os celoricenses lhe confiarem a vitória nas próximas eleições autárquicas.
Olhando para estes quatro anos, Carlos Ascensão, presidente da Câmara Municipal de Celorico da Beira, assegura que foram, sobretudo, de muito trabalho. Apesar disso, o autarca refere que este foi um primeiro mandato positivo, “sobretudo se tivermos em conta a herança e as circunstâncias que enfrentamos. Ainda assim, quando aceitamos um desafio, temos que assumir as responsabilidades e devemos estar preparados para aceitar tudo o que irá acontecer de bom e de mau”.
O autarca afirma que o fardo era pesado, tendo em conta a volumosa dívida que a Autarquia detinha e que fez com que esta tivesse que entrar num processo de saneamento financeiro. “Encaro esta função como encaro a vida: as boas contas são fundamentais. Sem elas não há desenvolvimento, não há progresso. Além disso, mais tarde ou mais cedo, as contas têm sempre que ser pagas. Deixar avolumar uma dívida é sempre prejudicial, até porque esta terá que ser saldada, até por força da imposição do Tribunal de Contas e da Direção-geral Finanças. Além disso, a partir do momento em que se atinge o excesso de endividamento que é permitido por lei, o acesso ao crédito deixa de existir, o que faz com que não haja investimento e a Autarquia deixe de ter capacidade para contratar pessoas. Apesar disso, trabalharmos muito para normalizar esta situação e estamos já na fase de regularização da dívida, o que nos permitirá ultrapassar este que era um grande estigma na nossa atuação. Essa foi uma batalha difícil, longa, mas está vencida”. Em apenas três anos, o Executivo Municipal conseguiu abater à dívida em cerca de seis milhões de euros, “valor que poderia ter sido aplicado a suprir outras necessidades da nossa população. Este trabalho de reequilíbrio financeiro é fundamental, mas, muitas vezes, as pessoas não têm essa noção. É complicado realizar um primeiro mandato nestas condições, contudo, se os celoricenses continuarem a confiar em nós este segundo mandato será certamente mais fácil”.
Projetos do presente e do futuro
“Apesar de todo o esforço de correção monetária também tivemos que lançar medidas para realizar investimento público. Semear agora para podermos colher os seus frutos no futuro. Neste sentido, realizámos algumas candidaturas a fundos europeus que já foram aprovadas. Em alguns casos não pudemos avançar com a sua concretização de imediato, devido aos constrangimentos financeiros, contudo iremos fazê-lo brevemente. Apesar disso, já realizámos o investimento de 2.5 milhões de euros no setor da educação, mais concretamente através da modernização de diversos equipamentos escolares. A Escola de Santa Luzia – 1º Ciclo foi reestruturada e equipada com equipamentos novos, nomeadamente quadros interativos. Realizamos ainda uma intervenção semelhante na Escola de São Pedro – 1º Ciclo e estão a decorrer as necessárias obras de reconstrução e ampliação da Escola Básica e Secundária Sacadura Cabral. Sou professor do quadro da escola e conheço muito bem as suas necessidades e problemáticas, tanto ao nível dos equipamentos, como dos espaços, muitos deles ainda com amianto”. De acordo com Carlos Ascensão esta era uma intervenção há muito anunciada, mas nunca concretizada. “Agora é uma realidade irreversível, até porque as obras já começaram”. Estas obras incluem-se no plano de reorganização da rede estudantil do concelho, “potenciando ambientes escolares mais dinâmicos e motivadores, tanto para alunos como para profissionais do ensino, criando condições para a prática de um ensino moderno, adaptado aos conteúdos programáticos, promovendo um ensino inclusivo e estimulante para toda a comunidade educativa. A educação/formação é fundamental para qualquer território, uma vez que, sem ela, não há futuro nem desenvolvimento”, completa o edil.
O autarca também destaca o investimento de 700 mil euros que foi realizado nas piscinas municipais que “estavam completamente abandonadas, apesar de serem um equipamento fundamental não só para os novos jovens, incentivando-os à prática de exercício físico, mas também para os nossos idosos, combatendo o seu sedentarismo”.
No que concerne à cultura e ao património, Carlos Ascensão revela que a Autarquia adquiriu algumas casas devolutas junto ao Castelo de Celorico da Beira, o que permitirá melhorar a acessibilidade e visibilidade deste espaço, sendo que o município também irá apostar na criação de um espaço museológico e na colocação de alguns equipamentos de apoio. Estas intervenções resultam num investimento de 506 mil euros. O autarca salienta ainda o início das obras para a construção de um novo canil intermunicipal, projeto concretizado em parceria com a Autarquia de Gouveia. “Também adquirimos cerca de oito hectares de terreno no centro da vila que serão transformados num novo espaço verde, numa nova centralidade, o novo Parque Urbano de Celorico da Beira, mais-valia para todos os munícipes, mas também para todos aqueles que nos visitam. Para além disso, iremos avançar com a requalificação das várias praias fluviais que existem no concelho, porque consideramos que o rio está desaproveitado. Cada vez somos mais procurados por visitantes que procuram este conforto, tranquilidade, ar puro e qualidade de vida em harmonia com a natureza”.
Território repleto de potencial
“Este é um território repleto de potencial e nunca podemos achar que estamos perdidos no Interior quando, na verdade, estamos localizados no centro da Península Ibérica. Estamos apenas inexplorados. É por isso que digo que muita da nossa riqueza está no nosso potencial, até porque estamos a meio do caminho entre Lisboa e Madrid, entre Salamanca e Coimbra, duas referências já que são das universidades mais antigas da Europa. Estamos perto da fronteira, perto Viseu, perto de Aveiro e temos que realçar essa mais-valia que são as nossas acessibilidades, não só rodoviária, mas também ferroviária. Temos esta centralidade que tem sido desperdiçada, mas que vamos começar a valorizar, desde já com obras de beneficiação na nossa zona industrial, o que potenciará a criação de novos postos de trabalho”, assegura o autarca.
Carlos Ascensão assevera ainda que não podemos esquecer as riquezas naturais que o concelho possui, até porque está localizado na entrada Norte da Serra da Estrela, o que faz com que uma parte significativa do concelho pertença ao Parque Nacional da Serra da Estrela e ao Geopark, “mais-valia de enorme visibilidade, até porque é património da UNESCO, o que lhe confere visibilidade nacional e internacional. Temos ainda o Mondego, o maior rio inteiramente português. Não podemos nunca esquecer as nossas gentes, as nossas tradições, os nossos saberes e os nossos sabores, como o nosso queijo, uma tradição do passado e do presente”. O autarca advoga mesmo que Celorico da Beira é a verdadeira capital do queijo da Serra da Estrela, razão pela qual a Feira do Queijo, organizada pela Autarquia, é já uma referência nacional ainda que este ano tenha sido reinventada e decorra em formato on-line. “Este ano se as pessoas não podiam vir até aqui, tínhamos nós que ir ter com as pessoas. Assim, criámos uma feira digital que decorreu durante um mês. Para o efeito criámos uma plataforma digital, a celoricocomgosto.pt, onde todas as pessoas, com um simples clique, podem adquirir as nossas iguarias. Penso que o futuro passará muito por medidas como esta, até porque estes são novos tempos e novas realidades”.
O edil afirma que também não pode ser esquecido todo o património histórico que Celorico da Beira tem o privilégio de ter, nomeadamente, dois castelos, uma aldeia histórica e várias aldeias de montanha. “O potencial está todo aqui, só temos que o desenvolver. O mais importante é que consigamos criar as respostas essenciais para que as pessoas se sintam bem aqui e que aqui permaneçam. Já sofremos muito no passado com o êxodo para o Litoral e para o estrangeiro e não podemos permitir que isso volte a acontecer. Além disso, temos que trabalhar para que muitos dos que saíram possam voltar. Temos que nos recriar e criar novas respostas para as populações porque sabemos que são muitos aqueles que ainda preservam aquela vontade tão lusitana de voltar à sua terra e ao seu País. É esse o esforço que fazemos todos os dias e é nisso que trabalhamos afincadamente, ainda que reconheçamos que ainda existe muito a fazer”.
O combate à pandemia
“Com a pandemia tivemos que ajudar primeiramente as pessoas do ponto de vista da saúde e da sua proteção, nomeadamente através da distribuição de equipamento de proteção individual. Claro que também apostamos na sua sensibilização e informação. Paralelamente tivemos que reforçar a apoio prestado na área social, nomeadamente em estreita articulação com as nossas IPSS e com os bombeiros, para além da GNR e as demais autoridades de saúde Foi um grande esforço que fizemos, tendo em conta a nossa dimensão”, assegura Carlos Ascensão que garante que, durante este último ano, nunca esqueceu as famílias mais desfavorecidas e com menos meios para sobreviver perante esta nova realidade.
O autarca explica que a preocupação agora é o pequeno comércio. “Estamos com várias medidas no terreno, seja através da isenção de algumas taxas ou despesas ou através do incentivo ao consumo, numa tentativa de minimizarmos as perdas que foram registadas. Seja como for, temos que nos ajudar e apoiar mutuamente”.
O edil considera que o facto de Celorico da Beira ser um pequeno concelho do Interior do País, neste contexto, é uma importante mais-valia, “tanto ao nível da dificuldade de disseminação do vírus, como nos seus efeitos mais nefastos, uma vez que somos muito solidários, as empresas são mais pequenas, muita delas de cariz familiar e, felizmente, o desemprego ainda não subiu muito apesar da pandemia”.
Quanto ao processo de vacinação, Carlos Ascensão refere que este decorre dentro da normalidade e informa que a Autarquia já disponibilizou o pavilhão gimnodesportivo para o efeito quando a vacinação for massiva. Para além disso, o autarca esclarece que o município está a auxiliar as autoridades no contacto com os habitantes mais velhos, “uma vez que a população é dispersa e tem problemas com a comunicação através do telemóvel. Também disponibilizamos transporte para estas pessoas. Seja como for, o desconhecimento em relação a esta doença ainda é muito grande pelo que não pudemos baixar a guarda e temos que nos manter vigilantes. Espero que os munícipes saibam que melhores tempos virão, que toda esta pandemia será ultrapassada e que tudo irá ficar bem. Temos que ter esperança. Apesar disso, as pessoas têm que manter todos os cuidados e não podem descurar a sua atenção. Só com o contributo de todos poderemos ultrapassar este vírus”, conclui.
Mensagem a todos os celoricenses
“Acredito que estamos a virar uma página neste concelho, abrindo uma nova página de paz, tranquilidade, até porque já somos tão poucos…. Infelizmente, por vezes, a política fomenta guerras desnecessárias. Espero que todos os celoricenses, sem exceção, percebam que temos que estar unidos, de uma forma solidária, para conseguirmos ajudar quem mais precisa e para lutarmos em prol desta terra e das suas gentes”.