Confiante rumo a 2021

A cumprir o segundo mandato como presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, nos Açores, Álamo Meneses, em entrevista ao Empresas+®, faz o balanço do trabalho levado a cabo até ao momento. O autarca está confiante de que chegará a 2021 com uma boa taxa de execução daquelas que foram as suas propostas em 2017 e que foram sufragadas pela população.
Álamo Meneses cumpre o segundo mandato como presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo acompanhado exatamente pela mesma equipa que esteve com ele durante o primeiro mandato. “Devemos ser uma das poucas autarquias no país em que isso acontece. Nas últimas eleições, em 2017, apresentamos um programa que foi sufragado pela população, pelo que a nossa obrigação agora é de o cumprir. Esperamos chegar a 2021 com uma boa taxa de execução daquelas que foram as nossas propostas”, garante o autarca.
Olhando para trás, o edil revela que este tem sido um trabalho de continuidade em relação ao mandato anterior, “sendo que sempre encarei este desafio como um projeto a médio prazo, sustentado e para o qual seria necessário algum tempo”. Apesar disso, Álamo Meneses reconhece que o seu primeiro mandato lhe trouxe algumas lutas inesperadas. “A autarquia passou por uma fase muito complicada, nomeadamente do ponto de vista político, uma vez que a anterior presidente se demitiu. Paralelamente, não podemos esquecer a profundíssima crise económica que assolou o nosso País e que ainda se continua a fazer sentir na Ilha Terceira. Creio que assumi este lugar naquele que foi o ano mais difícil para a região, 2013. Para além da questão económica, as pessoas estavam mergulhadas numa espécie de pessimismo, o que dificultou ainda mais o nosso trabalho. Estes foram desafios acrescidos que tivemos que superar”.
Apesar das dificuldades, Álamo Meneses assegura que, quando tomou posse, a autarquia estava organizada e as contas estavam ordenadas, pelo que o maior desafio passou pela intervenção social e económica do concelho, “retomando o otimismo e a autoestima que a crise nos fez perder, ao mesmo tempo que abríamos novos horizontes e novas perspetivas para todos aquele que aqui moram. Assim já muito foi feito, mas a nossa caminhada tem que continuar”. O autarca assevera que foram já realizadas diversas obras importantes e estruturantes, como a manutenção e limpeza das linhas de água, como Porto Judeu, “com o objetivo de contribuir para a segurança de pessoas e bens”. O edil destaca ainda a reestruturação do sistema de tratamento de resíduos, obra financiada a 100 por cento, em conjunto com o município vizinho da Praia da Vitória. “Este projeto permitiu um encaixe financeiro na ordem dos 36 milhões de euros, o que nos permitiu avançar com a construção de uma incineradora, aproveitando os resíduos para a produção de energia. Neste momento, cerca de dez por cento da energia elétrica consumida no concelho provém desta fonte. Com esta obra, conseguimos ainda resolver, em definitivo, um grave problema que tínhamos: a existência de um aterro que estava descontrolado e que colocava em perigo alguns dos nossos recursos hídricos. Assim, podemos dizer que o concelho realizou um excelente aproveitamento dos fundos comunitários provenientes do anterior quadro de apoio”.
A aposta nas novas tecnologias
O parque de ciência e tecnologia da ilha Terceira (Terinov), o segundo dos Açores, também já está em funcionamento. Instalado no antigo campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, onde inicialmente funcionou um hospital militar, o Terinov tem uma zona destinada à incubação de empresas, para além de espaços para empresas existentes, para indústrias criativas e laboratórios de investigação, para além de áreas destinadas ao desenvolvimento da indústria agroalimentar e produtos lácteos. Este parque acolhe ainda o Centro de Biotecnologia dos Açores. “Este é um excelente projeto de reabilitação urbanística de um edifício junto a um bairro social que estava em completa ruína. Além disso, o primeiro concurso para atribuição de espaços já decorreu e a atividade é já significativa”, assegura o edil que advoga que este é um investimento, superior a nove milhões de euros, “que vai reforçar a capacidade que a região tem para atrair empresas nas mais diversas áreas”.
Segundo Álamo Meneses, a autarquia de Angra do Heroísmo também se tinha comprometido a criar uma incubadora de negócios de base local, “com vista à estruturação de um novo e sustentável capítulo económico”. É neste contexto que surge a StartUp Angra, “que visa potenciar e consolidar um ecossistema de empreendedorismo, inovação e desenvolvimento tecnológico, ao mesmo tempo que rentabiliza oportunidades dos eixos industriais estratégicos de importância para a Região, captando novos negócios e valorizando a produção local. De salientar que a equipa multidisciplinar inclui mentores reconhecidos pelos seus percursos académicos e profissionais. O objetivo é que, através da partilha de competências ao nível da gestão, criatividade, negociação, financiamento e identificação de oportunidades de negócio, a Startup Angra disponibilize espaços físicos e virtuais para sediar e acompanhar empreendedores, acedendo às tecnologias de comunicação, informação e prototipagem, além de proporcionar ligações com parceiros associados ao meio empresarial e académico”, esclarece o edil que explica que a incubadora acompanha todas as fases do processo empreendedor, desde a geração da ideia até à integração do produto ou serviço no mercado. “Mais do que capacitar o espírito empreendedor local, a StartUp Angra visa apoiar e assegurar a sustentabilidade de projetos que venham a assumir um papel exemplar no novo capítulo económico de Angra do Heroísmo. Já passaram por este projeto cerca de meia centena de novas iniciativas empresarias, estando algumas delas em fase de instalação no Parque Tecnológico, o que muito nos alegra”, completa.
Ainda na área das novas tecnologias, e com um investimento de 300 mil euros por parte do Governo Regional dos Açores, o autarca revela que foi firmada uma parceira com a ITUp, dando origem à Terceira Tech Island 2019, iniciativa que pretende criar 60 novos postos de trabalho na área da programação informática, ao mesmo tempo que fornece formação a programadores em OutSystems, uma ferramenta de desenvolvimento de aplicações de software. “Este bootcamp intensivo de programação, pretende apresentar uma alternativa às tradicionais linguagens de programação e transformar a ilha Terceira num pólo de empresas tecnológicas”, afirma Álamo Meneses.
Desafios futuros
“Esta é uma ilha, mas perfeitamente integrada do ponto de vista social e económico. É por isso que trabalhamos em estreita parceira e colaboração com o município vizinho da Praia da Vitória. Qualquer melhoria num destes concelhos afeta positivamente o outro, daí que faça todo o sentido uma atuação concertada e conjunta, pelo que estamos confiantes de que todas estas medidas, entretanto levadas a cabo, serão capazes de fixar mais pessoas na ilha, o que muito nos apraz”, refere o autarca que reconhece que a perda de população continua a ser um dos principais problemas que o Município enfrenta. “Estamos em fase regressiva do ponto de vista demográfico, situação que urge inverter. Desde 2013 que o nosso saldo fisiológico é negativo, ou seja, morrem mais pessoas na ilha do que aquelas que nascem”. Álamo Meneses reitera que a emigração é outro problema que contribui para a falta de população na Ilha, sobretudo na costa Norte e Oeste onde já existem freguesias habitadas, quase em exclusivo, por pessoas mais velhas, “o que é preocupante. Este será um problema daqui a 10 ou 20 anos, pelo que temos que apostar na sua resolução atualmente”.
O autarca revela ainda que viver numa ilha distante como a Terceira “cria uma dependência muito grande em relação às acessibilidades, seja pela via área ou marítima”, sendo que, nesta área a Ilha tem atravessado algumas dificuldades. “As nossas dificuldades no transporte aéreo são conhecidas. Ainda que afetem os Açores em geral, acabamos por ser ainda mais penalizados, uma vez que ficamos secundarizados em relação ao Aeroporto de Ponta Delgada, o que nos causa grandes constrangimentos”. O edil assegura que é vital que se repense o modelo existente para a acessibilidade aérea de e para as ilhas. “Esta é uma matéria que devia merecer toda a atenção do Governo Regional dos Açores, ainda que admita que parte da sua resolução possa passar por iniciativas empresariais particulares”.
Álamo Meneses revela que a região também sofre com dificuldades no transporte marítimo, “o que penaliza economicamente a Ilha. A verdade é que temos sido esquecidos pelos navios de cruzeiro que estão em franca expansão na região”. Para o autarca a explicação é óbvia: “Não existe um porto adequado para estas embarcações. A solução seria a reestruturação do Porto das Pipas. O lançamento do concurso já ocorreu, pelo que aguardamos com expectativa que a obra seja lançada o mais rápido possível. Esta intervenção inclui o prolongamento do cais de acostagem para os 182 metros e a construção da última rampa ro-ro [navios que incorporam rampas para ‘rolar’ a carga para bordo e para terra] e ferries dos portos dos Açores. A requalificação deste porto proporcionará melhores condições de operacionalidade e segurança, contribuindo para o desenvolvimento do concelho de Angra do Heroísmo”, conclui.