“Mão de obra qualificada futuramente é uma missão (quase) impossível”

A Construtora Paulino Sá Lda. foi criada em 2013, em Esmoriz. Especializada na remodelação e na reabilitação de moradias, a empresa é uma referência na região. Apesar do sucesso, Paulino Sá, responsável pela empresa, mostra-se apreensivo quanto ao futuro, tudo porque encontrar “mão de obra especializada na atualidade é uma missão preocupante e quase impossível”.
Paulino Sá criou a Construtora Paulino Sá Lda. em 2013 e recorda como tudo começou: “Depois de 12 anos a trabalhar numa grande construtora nacional, em resultado de um contencioso que tive com a empresa, fiquei desempregado. Foi aí que decidi arriscar e começar a trabalhar por conta própria. Coletei-me, contratei mais um colaborador e dei início a este desafio”. Hoje, o empresário lidera uma equipa de quatro pessoas e mais alguns indiretos. A Construtora é uma referência na remodelação e reabilitação de moradias, ainda que também já tenha realizado algumas obras com a chave na mão. Apesar disso, Paulino Sá explica que “as obras nunca podem ser muito grandes e complexas porque a empresa é ainda pequena e os recursos são limitados”.
Olhando para o futuro, o empresário assevera que as expetativas para este ano não são tão animadoras e tudo por causa da atual pandemia. “Estivemos parados durante algum tempo por causa do confinamento. A situação do concelho de Ovar foi conhecida a nível nacional. Além disso, parece que o trabalho das pessoas, agora, não rende o mesmo, que estas laboram manietadas pelo medo. Ainda assim, reconhecemos que o mercado até está em crescimento, o que é uma mais-valia”. Apesar disso, a Construtora Paulino Sá Lda. já tem trabalho agendado até meados de 2021.
Quanto à concorrência, Paulino Sá afirma que esta é muito grande porque existem muitas pequenas e microempresas a trabalhar neste setor. Para além disso, “e mais grave, muitas delas trabalham de forma completamente clandestina, concorrência desleal, e a Autoridade para as Condições do Trabalho não toma qualquer medida. As entidades competentes têm o dever de fiscalizar o setor”.
Contudo, mais do que a concorrência, o empresário garante que o setor se debate com um problema ainda maior: a falta de mão de obra, sobretudo especializada. “Atualmente, os profissionais que laboram nesta área têm já mais de 50 anos de idade, o que é preocupante, uma vez que prova que a geração não se tem renovado. Hoje, arranjar um funcionário novo e especializado é mesmo uma missão impossível.”.
Para Paulino Sá, esta realidade é o resultado de uma decisão tomada há vários anos: “Todos os jovens têm que ir para a escola e concluir o 12º ano de escolaridade e a verdade é que nem todos os jovens querem estudar até aos 18 anos. O que se ganha ao obrigar um jovem a manter-se na escola, contra a sua vontade até aos 18 anos? Findo esse tempo, o jovem quer integrar o mercado de trabalho e não tem ou sabe nenhuma arte”.
O empresário aconselha o Governo a olhar para o que é feito noutros países europeus e explique que na Alemanha, por exemplo, o percurso escolar dos jovens é acompanhado desde tenra idade. “Caso se constate que as notas não são satisfatórias, o jovem é integrado numa das várias escolas profissionais existentes, de acordo com os seus interesses, onde aprende uma profissão. Naquele país existem cursos para quase todas as artes. Em Portugal, um jovem com 18/20 anos não quer ir para a construção civil. Aqueles que ainda arriscam não podem ganhar menos do ordenado mínimo, ainda que não saibam fazer nada e nem sequer estejam disponíveis para aprender. Eu comecei a trabalhar neste setor com apenas 13 anos de idade e ainda bem que isso aconteceu”.
Quanto ao futuro, Paulino Sá assevera que é muito complicado fazer qualquer tipo de prognóstico, “sobretudo num país como Portugal, onde as empresas têm que enfrentar uma carga fiscal pesadíssima e não recebem qualquer ajuda por parte do Estado. Ajuda essa não arreceber subsídios para deixar de trabalhar, mas sim créditos mais económicos e acessíveis na compra de equipamentos motorizados. Eu tinha e tenho condições para crescer muito mais, porém, como a mão de obra disponível é muito reduzida não irei arriscar alem das expetativas. Assim queremos, sobretudo, manter os nossos clientes satisfeitos, tem sido a minha prioridade com muito sucesso. Consolidar a nossa posição no mercado e, se possível, crescer ligeiramente de forma paulatina e consolidada”.