Muito mais do que simples madeira

Em entrevista ao Empresas +®, Bruno Pita, diretor da EPW®, faz o balanço da atividade levada a cabo pela empresa no decorrer dos últimos anos. Hoje em dia, a EPW® é uma referência a nível europeu e mundial na produção de perfis extrudidos a partir de um compósito de polímeros e fibras naturais. A este composto é dado o nome de WPC (Wood Plastic Composite), uma mistura homogénea de madeira e polímero, um produto que combina o melhor destes dois materiais.
Fundada em 2006, a EPW® dedica-se à extrusão de perfis produzidos com compostos de plástico e madeira (WPC). Estes podem ser depois aplicados em várias soluções exteriores como desde decks para passadiços, até piscinas, varandas ou até mesmo revestimentos de fachada para edifícios. O tato e a visão deste material sugerem que se trata de madeira, no entanto, este produto resulta da simbiose perfeita entre as propriedades de eleição dos seus componentes: madeira e polímeros.
Olhando para trás, Bruno Pita, diretor da empresa e engenheiro mecânico, refere que, nos últimos cinco anos, a EPW® aumentou exponencialmente as suas instalações. Hoje em dia, a empresa tem ao seus dispor mais de seis mil metros quadrados de área de produção, laborando com cinco linhas de produção, 24 horas por dia, sendo a produção contínua de segunda a domingo nos meses de verão. “Crescemos à razão de dois dígitos percentuais por ano, o que é assinalável”, refere o empresário que, no entanto, reconhece que tiveram que ser também ultrapassados alguns obstáculos. “Debatemo-nos com a problemática da falta de mão-de-obra, sendo que, a pouca que existe, não está dotada de qualquer formação. Perante este cenário, a nossa opção [e de toda a industria em geral] passe, cada vez mais, pela automatização de processos, por forma a que a mão de obra especializada seja cada vez menos necessária. A verdade é que não nos compensa formar colaboradores quando a rotatividade faz parte do ADN desta geração. Assim, em detrimento de investir na formação, toda a indústria está a optar por investir na tecnologia”. Para Bruno Pita este é um problema cultural do nosso País. “Não apostamos na formação intermédia. Em Portugal, ou existem pessoas sem formação ou licenciados, parecendo que é quase uma vergonha frequentar e ser formado numa área mais técnica e profissional, o que não faz qualquer sentido. Neste aspeto, devíamos regressar ao passado e implementar uma espécie de escolas industriais. Atualmente, os politécnicos só apostam nas licenciaturas e eu pergunto porquê. Os politécnicos deviam apostar em formações mais práticas e menos académicas, é isso que o mercado precisa. Se as coisas continuarem assim, a indústria vai continuar a automatizar-se e, daqui a alguns anos, os níveis de desemprego irão, certamente, subir porque as empresas vão deixar de precisar de pessoas e vão precisar apenas de máquinas”.
A EPW® persegue, ainda, desde o início, infraestruturas e supraestruturas adaptadas a uma política ambiental e tecnológica de excelência, daí que realize aposta ecológica do aproveitamento das águas das chuvas, onde tem capacidade de armazenamento instalada de 120 mil litros. “Os nossos produtos também são ecológicos, uma vez que a nossa madeira provêm de cadeias de produção sustentáveis. Existem apenas mais duas unidades fabris com esta certificação em toda a Europa. O ambiente para nós não é apenas uma bandeira, fazemos dela uma realidade. Tomamos estas decisões por princípio e não por pura ostentação”, assegura Bruno Pita.
Uma empresa global
Com 30 funcionários nos seus quadros e uma faturação, em 2018, cifrada nos três milhões e meio de euros, a EPW® exporta cera de 70% da sua produção para o mercado externo, sendo o restante consumido internamente. Os principais mercados da empresa são países como os Emiratos Árabes Unidos, Egito, França, Espanha e Inglaterra, ainda que a EPW® comercialize as suas soluções e produtos para 22 países diferentes, onde tem centenas de clientes. De acordo com o empresário, os mercados que estão a registar um maior crescimento são o da Arábia Saudita, Dubai e Qatar, sendo que a empresa também a dar os seus primeiros passos no mercado Australiano. Apesar de toda a presença no mercado internacional, Bruno Pita assegura que a EPW® não esquece o mercado português, onde é líder, “até porque foi aqui que nascemos e que tudo começou. Curiosamente, o mercado português é um dos que mais cresceu este ano. Neste momento, já faturamos quase o dobro do registado no ano passado”.
Quando ao mercado europeu, o empresário afirma que este está a atravessar uma recessão há dois/três anos “e é claro que essa situação nos prejudica. Falamos de um segmento de mercado alto e médio-alto, uma vez que estes são produtos caros, que não estão ao alcance de todos. Falamos de soluções que chegam ao cliente final com custos que rondam os 80 euros o metro quadrado, o que é assinalável. Neste momento, as empresas estão a optar por não realizarem acabamentos topo de gama em muitas das suas habitações. Possuímos um escritório comercial na Alemanha, desde 2016, e a sua atividade tem baixado. O mesmo tem acontecido com o mercado francês, espanhol e italiano, onde o consumo dos nossos produtos tem baixado. Penso que toda a Europa está a passar uma recessão generalizada. O mesmo aconteceu com o mercado da vizinha Espanha, onde as nossas vendas também baixaram muito, ainda que permaneçamos líderes. O que acontece é que esta descida não se sente apenas neste ou aquele cliente, ou neste ou naquele mercado. Esta é sentida, de forma geral, com todos os nossos clientes, independentemente da sua dimensão”.
Com obras emblemáticas um pouco por todo o mundo, Bruno Pita revela que a EPW® está, atualmente, a terminar um projeto com cinco mil metros quadrados, no Egito. Além disso, “trabalhamos com grandes cadeias de hotéis mundiais e, por exemplo, estamos no projeto de reconstrução da torre que ardeu, há três anos, em Londres. As varandas dos 66 andares do edifício estão a ser equipadas com as nossas soluções, precisamente pela sua resistência ao fogo. Falamos de 14 mil metros quadrados, numa obra que será uma referência quando estiver terminada daqui a dois anos”.
Qualidade vs. preço
De acordo com o empresário, no passado, a China era um problema para todos os produtores europeus, “uma vez que entravam no mercado livremente, com qualquer tipo de produto [com taxas aduaneiras que não protegem a industria europeia], a um preço muito mais baixo do que aquele que qualquer um de nós conseguia apresentar aos clientes e, durante alguns anos, estes escolheram em função do preço, até que o fator qualidade passou a ser decisivo. Todos sabemos que a China também produz produtos de qualidade. A maior parte dos produtores automóveis está presente naquele país e o controlo de qualidade é europeu, o que demonstra a sua capacidade. É errada a mensagem de que tudo o que vem da China não presta. Aliás, eu costumo afirmar que, se quisermos, também conseguimos produzir produtos a preço baixo como na China. A questão é que o consumidor, não protesta ou reclamam com um produtor chinês, porque assume que pagou pouco, como tal é natural que a performence do produto seja reduzida. Qualquer fabricante europeu consegue produzir ao preço da China, contudo, o que é inegável é que a baixa de preço significa forçosamente a baixa de qualidade”. O consumidor aceita isto vindo de um produto Asiatico, mas não aceita se vier de um produtor europeu.
Apesar da evolução e de uma maior aposta na qualidade, Bruno Pita considera que, “infelizmente, em Portugal, muitos clientes continuam a decidir com base no preço, não percebendo que, em dois anos, o investimento que fizeram com a aquisição dos nossos produtos está já pago, enquanto que uma solução em madeira continuará a ter manutenções, podendo mesmo que ter que ser substituída ao fim de algum tempo. Existem ainda mercados internacionais, como por exemplo, Norte de África, Angola e Brasil, que funcionam também com base no preço. Noutros pontos do mundo, felizmente, já não é assim e a escolha recai na qualidade. Mesmo nos países nórdicos onde existe uma grande cultura da madeira, até porque existe em grandes quantidades, à mercê da nossa qualidade, conseguimos já implantar-nos e convencer muitos clientes. Temos mesmo um distribuidor na Suécia e o mercado está a correr muito bem”, assegura o empresário.
Bruno Pita explica que os produtos e soluções EPW® não estão presentes nas grandes superfícies porque essa é a escolha da empresa. “Optamos por laborar apenas na distribuição. Dentro desta existem dois tipos de clientes, os que gostam de madeira e que, independentemente do custo, optam sempre por esta e os que gostam de madeira, mas que não querem estar a gastar, de seis em seis meses, o custo da sua manutenção ou que rejeitam a possibilidade de uma criança poder espetar uma farpa no pé na madeira que tanto insistiram em instalar. A nossa aposta é precisamente este segundo tipo de cliente, que gosta de madeira, mas que olha para o produto de uma forma mais económica”.
Quanto ao futuro, o empresário é perentório e considera que este está na globalização e “em conseguirmos uma pequena quota de mercado em vários países. É por isso que estamos a equacionar a abertura de uma unidade fabril no Centro da Europa, tudo para que possamos continuar a ser competitivos nos mercados a Leste da Alemanha, locais onde o preço dos transportes faz com que percamos competitividade perante os nossos concorrentes”, conclui.