Por uma vida melhor e mais feliz

Fundada em 1996, a Associação de Apoio aos Deficientes Visuais do Distrito de Braga é uma Instituição Particular de Solidariedade Social sediada na Póvoa de Lanhoso. Apoiar os deficientes visuais e as suas famílias é a missão desta entidade que conta atualmente com 500 associados. Sendo uma referência no apoio à deficiência visual, a AADVDB funciona desde 2006 como centro de atendimento, acompanhamento e reabilitação ao abrigo de um acordo com o Centro Distrital da Segurança de Social de Braga. Presidida por Domingos Silva, a instituição procura realizar um trabalho diferenciador que permita promover e vivenciar uma vida feliz e mais agradável.
A Associação de Apoio aos Deficientes Visuais do Distrito de Braga nasceu a 19 de janeiro de 1996, pela intencionalidade de Domingos Pereira da Silva (também ele um invisual), Luísa Maria Rodrigues Sousa Dias e Manuel Santa Cruz Oliveira, apoiados por António Almeida Santos, padre Vítor Melícias, Gilberto Madaíl, entre outras individualidades. Em 2006 a história da AADVDB passou a escrever-se com novo fôlego, funcionando como um Centro de Atendimento, Acompanhamento e Animação, ao abrigo de um Acordo Atípico estabelecido com o Centro Distrital de Segurança Social de Braga, a instituição passa assim a ter várias áreas de atuação dentro da deficiência visual do distrito de Braga. Atualmente os utentes são oriundos de vários concelhos do distrito de Braga, Guimarães, Braga, Póvoa de Lanhoso, Barcelos, Fafe, Vizela, Vila Nova Famalicão e Vila Verde. “Temos por lema ‘gente feliz com os olhos nas mãos’, que surgiu de uma ação de sensibilização na Escola Secundária de Taíde, e no final nos presenteou com um quadro onde tem esta frase que acabamos por adotar”, afirmam.
Equipa técnica multidisciplinar
Com cerca de 500 associados, a AADVDB preconiza a sua ação em quatro grandes objetivos: dinamizar atividades terapêuticas, ocupacionais e de lazer que deem expressão às suas potencialidades e experiências de vida; promover a integração e sociabilização dos utentes reduzindo as taxas de exclusão social; sensibilizar os parceiros sociais bem como a comunidade em geral para os direitos das pessoas com deficiência; incentivar a consciencialização acerca das medidas necessárias à promoção da igualdade de oportunidade para as pessoas com deficiência. Para o efeito, conta com uma equipa técnica multidisciplinar constituída por uma técnica de Serviço Social, uma Psicóloga, um técnico de Motricidade Humana e Reabilitação e uma técnica de Animação Sociocultural, que para além de variadíssimas atividades de sociabilização, desporto e lazer, dão resposta às inúmeras solicitações resultantes da deficiência visual.
Entrevista a Domingos Pereira da Silva, presidente da AADVDB
Quem é o Domingos Silva?
“Se tirarmos a parte que sou cego, sou uma pessoa normal tenho 43 anos, um emprego onde sou muito feliz, sou solteiro, bem-disposto e de bem com a vida. Sou é um sonhador incorrigível, aliado à minha teimosia… levo sempre a água ao meu moinho!”.
Como surge a Associação de Apoio aos Deficientes Visuais do Distrito de Braga?
“A Associação nasceu da necessidade que eu via em ajudar cegos, do distrito de Braga que, ou precisavam de ajuda para arranjar trabalho, ou simplesmente de um local onde pudessem conviver. Porque no contacto com a realidade, fui percebendo que a nível nacional havia mais apoios do que a nível local e sobretudo no distrito de Braga. Por isso, quando reuni os apoios necessários, e aí tenho de agradecer a Luísa Maria Rodrigues Sousa Dias, Manuel Santa Cruz Oliveira, Rui Rebelo, presidente e comandante dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Lanhoso, que nos cedeu um espaço, no Edifício dos Bombeiros onde durante de anos funcionou a sede da Associação. O objetivo era só um: apoiar todos os invisuais do distrito.
A Associação foi uma luta intensa por parte dos seus fundadores. Hoje em dia, como é gerir esta casa?
“No contacto com a realidade fui percebendo que não seria fácil. Aquilo que a Associação fazia pelos invisuais, na minha perspetiva, era insuficiente. Queria oferecer mais serviços. Mas também rapidamente percebi que, querendo mais, teria que ter mais estrutura financeira e pedir ajuda ao Estado. Não era num ou dois anos que ia conseguir um acordo com a Segurança Social, tive de me confrontar com várias situações. Tenho aprendido que na vida temos de nos focar naquilo que somos bons. E fazer das desvantagens uma vantagem. Sou muito teimoso, mas graças a Deus a vida também tem colocado no meu caminho as pessoas certas. Conheci Idália Serrão, Secretária de Estado Adjunta e da Reabilitação na altura e Maria do Carmo Antunes também então diretora da Segurança Social de Braga que foram peças fundamentais para conseguir finalmente, em 2006, o tão esperado Acordo Atípico com a Segurança Social de Braga. Foi um salto de gigante. Tivemos de nos mudar para novas instalações. Aproveito para agradecer ao senhor Teixeira, dono da empresa Fachadas do Norte, que conseguiu que eu ao final de dois meses [o tempo que me foi dado senão perdia o acordo] pudesse abrir as portas da nova sede da AADVDB. Deus coloca no meu caminho pessoas boas, que me vão ajudando! Uma delas é Tânia Almendra e a sua equipa que tem sido um pilar e muito tem ajudado a instituição em variadas
atividades e campanhas de angariação de verbas”.
Acredita que o mundo é regido por energias. Como é que consegue manter essa energia positiva que tantos falam?
“Fui sempre assim, desde que me conheço, não valorizo as coisas más. Separo as coisas boas das más e são as boas que eu quero valorizar. Como toda a gente, na minha vida privada tive problemas, sentimentos que são meus, mas eu não dramatizo. Quando aparece um problema, não fico a matutar naquilo, penso logo como posso dar a volta. Se assim não fosse, acredite, hoje não estaríamos aqui a falar sobre a Associação. Mas a verdade é que existe e recomenda-se! Temos uma equipa técnica composta por uma Psicóloga, uma Assistente Social, Animadora Sóciocultural, técnico de Reabilitação, duas motoristas e uma administrativa. Em 2013 obtivemos o Certificado de Qualidade dos nossos serviços e estamos agora a preparar-nos para a sua renovação. Fazemos o transporte de cerca de 40 utentes por mês, três vezes por semana. São quase cinco mil quilómetros por mês! Não é fácil! Pode não parecer mas são muitas as despesas! De forma a fazer face ás necessidades da instituição fazemos, ao longo do ano, campanhas de angariação de fundos onde contamos com o grande amigo Zé Amaro e outros parceiros, nomeadamente a Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso, o Grupo Jerónimo Martins com as lojas Pingo Doce nos embrulhos de Natal, várias comissões de festas e produtores nos concertos de Verão, clubes motard e organizações de festas na iniciativa Brilha por uma Causa. Sem o apoio dos parceiros e voluntários nada seria possível.
Continua a dirigir a Associação. Consegue ver a sua vida de outra forma?
“Não parece mas já lá vão 21 anos à frente deste projeto! Neste atual mandato, consultei várias pessoas que considero importantes, tanto na minha vida como na vida da Associação, um deles é o meu grande amigo Joaquim Barreto, que faz parte dos órgãos sociais da Associação desde 2007, que se mostrou satisfeito com o trabalho que tenho vindo a desempenhar e acredita no futuro da Associação. Se por um lado houve momentos difíceis, não posso deixar de reconhecer que houve também momentos muito bons, e isso devo-o ao facto de ser presidente desta Associação. Tenho a noção que a Associação sou muito eu e eu sou muito a Associação, não são dois dias, são 21 anos. Devo muito á Associação mas ela também me tem roubado muitas noites de sono! É muito trabalho, responsabilidade, mas é algo que me desafia e eu gosto de desafios! Gosto de ter sempre algo por que lutar. Parar é morrer e o futuro a Deus pertence”.
Se lhe dessem a oportunidade de realizar um desejo qual seria?
“Neste momento se me concretizassem um desejo era talvez o aumento da verba do Acordo Atípico com a Segurança Social. Isto porque, posso dizer que nos últimos dois ou três anos ando nessa luta. O valor que nos foi atribuído nesse acordo, neste momento, não é suficiente para os gastos que temos. Os funcionários são todos indispensáveis e as despesas correntes, como gasóleo, aluguer das instalações, manutenção das viaturas, seguros, entre outros. São muitas contas a pagar todos os meses. Agradeço aos nossos fornecedores, que em tempos difíceis têm a sensibilidade para entender e muitas das vezes aguardar por melhores dia. Posso falar do Carlos Rufino dos combustíveis, da Padaria Póvoa Pão [dona das instalações], oficina mecânica Oliveira Trancoso, entre outros. Tenho sorte de, ao longo da vida, ter granjeado grandes amigos, meus e da Associação”.
É esse o seu maior sonho Domingos?
“Já por diversas vezes falei de um desejo que eu acalento há algum tempo, que não deixa de ser um sonho… é a realização de um lar. A AADVDB é a menina dos meus olhos mas se eu conseguisse o lar era fantástico. Como costumo dizer ‘vamos andando e vendo’”.