Potenciar o desenvolvimento local

João Grilo cumpre o seu primeiro mandato como presidente da Câmara Municipal do Alandroal, depois de já ter ocupado o cargo entre 2009 e 2013. Apesar de considerar que este foi um mandato muito exigente, até por causa do combate à pandemia, o autarca garante que, apesar de todas as vicissitudes, o concelho do Alandroal tem, hoje, uma conjuntura de oportunidades ligadas às energias renováveis, ao património, ao Alqueva e à ferrovia que “nos conferem um grande alento para o futuro”.
“É incontornável que a atual pandemia que assola o mundo condicionou o programa que apresentámos a sufrágio nas últimas eleições autárquicas, uma vez que atrasou a concretização de alguns processos e tivemos que realizar algumas alterações perante o que estava inicialmente previsto. Neste momento, em condições normais, algumas obras importantes para o Município estariam já numa fase mais avançada. No fundo, a pandemia obrigou-nos a redefinir prioridades”, admite João Grilo, presidente da Câmara Municipal do Alandroal que garante que o Executivo percebeu, desde logo, que este seria um problema sério que iria afetar muito a população e condicionar as dinâmicas do concelho, pelo que mereceu total atenção.
“Perante este cenário onde estava em causa a saúde e bem-estar das pessoas, tínhamos que inverter as nossas prioridades e concentrar a nossa ação no combate à pandemia. Assim, ao longo dos últimos 15 meses, investimos mais de um milhão de euros nesta luta através de medidas de apoio à população, às empresas e às instituições, com especial enfoque nas IPSS, forças de segurança e infraestruturas que laboram no setor da saúde. Canalizámos tempo, recursos e fundos a este combate e mudámos o nosso dia a dia”, assevera o autarca que congratula a postura preventiva e proactiva que o Município adotou desde o início e que permitiu criar, no concelho, uma rede de trabalho colaborativo e de parceria entre todos os intervenientes neste processo. “Esta forma de trabalho em rede permitiu-nos ultrapassar os momentos mais complicados deste combate sem a existência de surtos mais complicados. Tenho que enaltecer o valoroso trabalho que foi realizado por todas as equipas que laboram nas IPSS locais, sempre em estreita articulação com a Autarquia e com as autoridades de saúde. De registar que não tivemos qualquer morte nos vários lares existentes no Alandroal”, sublinha João Grilo.
Apesar de reconhecer as vicissitudes, o autarca também reconhece que nem todas as problemáticas sentidas neste mandato resultaram da pandemia e explica: “Antes da pandemia já estávamos a sentir dificuldade em encontrar empresas de construção civil disponíveis para a realização de obras. Alguns concursos que abrimos não receberam qualquer proposta, o que fez com que esses projetos tenham sofrido atrasos. Não podemos também esquecer que a pandemia fez com que os serviços centrais estatais trabalhassem de forma mais lenta, o que atrasou burocraticamente outros processos. Todas estas vicissitudes levaram ao adiamento do início de várias obras que estavam previstas, ainda que não tenha inviabilizado qualquer projeto. Atualmente, com a melhoria da situação pandémica, estamos a tentar recuperar alguns desses investimentos, até porque, muitos deles, são alvo de financiamento através de fundos europeus, o que é uma grande mais-valia”.
O combate à pandemia
“A nossa primeira resposta para prepararmos a população para este desafio foi preponderante para este sucesso. As pessoas perceberam, de imediato, a gravidade da situação e a importância do papel de cada um de nós neste combate. Os munícipes reconheceram que este seria um combate sério e que teria que ser realizado de forma articulada”, advoga o autarca que destaca que o Município também distribuiu equipamentos de proteção individual (EPI) a toda a população, IPSS, forças de segurança e bombeiros, “muito antes do seu uso ser obrigatório, medida que também fez toda a diferença”. A Autarquia conseguiu ainda criar uma comunidade com mais de 60 voluntárias que se disponibilizaram para o fabrico de máscaras comunitárias, “medida muito importante quando o acesso a estes equipamentos era difícil de conseguir. As pessoas perceberam que a máscara era uma das melhores armas que podíamos usar, mais-valia reconhecida posteriormente noutros locais. Foi importante a atitude que adotamos de liderar de imediato este processo”, completa.
No combate a esta pandemia, João Grilo esclarece que o Município tomou diversas medidas no sentido de mitigar os seus efeitos nefastos. Além dos EPI, ofereceu três viaturas para auxílio a esta luta, entregando uma às forças de segurança locais (viatura 4×4 para a GNR), outra ao centro de saúde e a terceira aos bombeiros (ambulância). A Autarquia também instalou uma zona de acolhimento à população, sendo que esta teve que ser construída de forma amovível, de raiz, uma vez que o Município não dispunha de um espaço para esse efeito, num investimento de 100 mil euros. Para além disso, de acordo com o autarca, o Executivo apoiou ainda os lares com testagens regulares às suas equipas e constantes campanhas de desinfeção de todos os espaços. “Quando as escolas reabriram também assumimos a testagem de todas as equipas de trabalho, sendo que também temos testado de forma regular todos os funcionários da Autarquia”.
João Grilo afirma que também não podemos olvidar todos os apoios diretos que o Município atribuiu às empresas, até porque duplicou todos os apoios que o Estado Central conferiu aos empresários do concelho. Só com esta medida, a Autarquia já realizou um investimento superior a 100 mil euros, sendo que também distribuiu por todo o comércio local álcool gel desinfetante e nas escolas implementou sistemas de desinfeção e de controlo de temperatura.
Futuro repleto de oportunidades
“Apesar de termos já ideias muito vincadas acerca daquelas que seriam as prioridades de investimento no concelho, este primeiro mandato, felizmente, de alguma forma, ajudou-nos a confirmar a importância e pertinência do nosso plano. Em primeiro lugar, reconhecemos a importância da recuperação e da valorização do património. Possuímos três centros históricos, aos quais estão associados uma fortaleza e dois castelos, equipamentos que têm que ser valorizados e que têm que funcionar como âncoras para o desenvolvimento local. Até ao momento, só o Castelo do Alandroal foi, de alguma forma, intervencionado, sendo que no caso de Juromenha e Terena não foi realizado qualquer investimento”, lembra o autarca.
Com a fortaleza de Juromenha na sua posso e os castelos de Alandroal e Terena em vias de transferência do Estado Central no início do próximo ano, o município encara o processo com um sentimento misto, “permitir-nos-á recuperar e dinamizar estes espaços, ainda que também nos confira responsabilidade acrescida”. O presidente afirma que, durante este mandado, para Juromenha, o Executivo já desenvolveu um plano de intervenção que contempla a recuperação das muralhas, obra orçada em cinco milhões de euros, com fundos europeus e próprios e que irá ter início em breve. “Acreditamos que este modelo deve ser replicado no território, tudo para que possamos potenciar o desenvolvimento local. É por isso que já estamos a projetar uma obra semelhante para Terena, onde queremos valorizar o castelo, a antiga Misericórdia, ao mesmo tempo que criámos um novo museu. Este será outro investimento orçado em mais de cinco milhões de euros. Se possível, iremos incluir este projeto no novo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Se tal não for exequível, tentaremos que a intervenção seja passível de obter fundos europeus, no âmbito do quadro comunitário de apoio Portugal 2030”.
O autarca refere que, no futuro, o Município pretende ainda recuperar algumas igrejas e capelas que, apesar de não serem propriedade do Município, encerram valor histórico, patrimonial e turístico, “o que justifica a intervenção”. De acordo com João Grilo, o objetivo destas intervenções é tornar os espaços visitáveis, fator importante para o incremento da atratividade turística. Neste sentido, o Executivo já avançou com o restauro e conservação do Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova, em Terena, obras que serão realizadas em três fases. Na primeira será realizada a intervenção na cobertura e a requalificação total do exterior. Depois haverá uma segunda fase para intervenções no interior da capela para restauro e conservação dos frescos. E, finalmente, a terceira fase que corresponde ao espaço envolvente que precisa de ser requalificado. No total, a obra terá um valor de 300 mil euros.
“Também não podemos esquecer que o Alandroal é um concelho maioritariamente rural, dependente do setor agrícola do ponto de vista económico. Assim, a nossa ambição é que a nossa agricultura seja cada vez mais biológica e sustentável. Estamos confiantes de que o novo bloco de rega Lucefécit/Capelins do Alqueva será concretizado, o que vai ajudar a ampliar os sistemas de regadio existentes no concelho tornado a agricultura uma importante base do nosso desenvolvimento sustentável”, realça o presidente.
João Grilo ressalva que o Município também vai apostar na transição energética e nas energias renováveis até porque o concelho possui características “especiais que o tornam atrativo para a implementação de soluções energéticas solares, eólicas e, até mesmo, de produção de hidrogénio. Queremos ser um concelho de vanguarda nesta transição até porque consideramos que não será complicado ocuparmos uma parte reduzida do nosso vasto território com projetos desta natureza, o que nos permitirá obter um retorno importante ao nível dos impostos diretos, assim como dos postos de trabalho que serão criados e que ajudarão a suportar o desenvolvimento local em muitas outras vertentes. Neste momento, uma central está já quase construída e pronta para ser inaugurada. Consideramos que o cluster da energia tem, no Alandroal, um papel importante para o nosso desenvolvimento futuro”.
Segundo o autarca, o Município terá ainda que ultrapassar grandes desafios relacionados com a ferrovia, até porque esta atravessa o concelho e o Executivo quer que este investimento signifique retorno para a economia local. “Existe uma estação técnica no território com capacidade para se transformar em estação de carga e descarga ou até mesmo de passageiros, possibilidade que queremos ver concretizada. Sabemos que é o Alandroal que faz a ligação aos concelhos vizinhos que se dedicam à exportação da pedra mármore, o que faz com que este concelho possa ser a solução para o escoamento destes produtos para todo o mundo. Temos ainda inúmeros produtos agrícolas de excelência possíveis graças ao Alqueva que precisam também de ser comercializados. O mesmo acontece com o setor energético e com a possível produção de hidrogénio que precisará depois de uma rota de escoamento de produtos. Acreditamos que todas estas mais-valias poderão concorrer para a construção de uma área logística no Alandroal, o que conferiria um grande impulso nas dinâmicas económicas locais”.
Por fim, João Grilo enfatiza a oportunidade Alqueva. “Apesar de tudo o que já foi feito, este continua a ser um desafio repleto de possibilidades em virtude de tudo aquilo que ainda podemos construir. Temos já três áreas recreativas e de lazer previstas no âmbito do POAAP – Plano de Ordenamento das Albufeiras de Alqueva e Pedrogão”. O autarca revela que o Município já está a construir a praia e respetiva zona recreativa nas Azenhas D`El Rei, junto à localidade de Montejuntos, obra que prevê um investimento de cerca de um milhão de euros, valor comparticipado em 300 mil euros por parte do Turismo de Portugal. “Queremos replicar esta obra em Águas Frias, junto ao Rosário e em Juromenha, onde iremos criar ainda um centro náutico. Acreditamos que, com estes investimentos, iremos potenciar o retorno do Alqueva para o concelho, sendo que iremos ainda trabalhar na navegabilidade do Guadiana Internacional por forma a permitir a sua utilização desde Badajoz até ao paredão do Alqueva, no concelho de Moura. Assim este não é um desafio só nosso, na medida em que envolve outros municípios, tanto do lado português como do espanhol. Apesar disso, é inegável que este é um projeto que beneficiará toda a região, pelo que será uma importante aposta nossa para o futuro”.
João Grilo garante que todo o trabalho levado a cabo no decurso deste mandato demonstra que é possível fazer muito mais e melhor no futuro. “Além disso, apesar das muitas dificuldades no passado, demonstra ainda que o concelho do Alandroal tem hoje uma conjuntura de oportunidades ligadas às energias renováveis, ao património, ao Alqueva e à ferrovia que nos conferem um grande alento para o futuro. Assim, a mensagem para o futuro, só pode ser de grande esperança”, conclui.
Limitação de mandatos devia ser transversal
“Concordo, em absoluto, que a limitação de mandatos devia ser transversal a todos os cargos públicos, até porque a premissa existente para essa limitação é da não perpetuação e da não criação de hábitos e vícios de governação, permitindo a rotatividade no poder. Ganhávamos todos com a decisão desta limitação ser para todos. Defendo ainda que essa limitação se estabeleça em três mandatos de cinco anos ou em quatro de quatro anos, tendo em conta os timings existentes dos quadros comunitários e toda a carga burocrática que qualquer projeto implica”.