“Unidos seremos sempre mais fortes”

Em entrevista ao Empresas+®, Joaquim Coutinho Duarte, empresário, gestor de sucesso e sportinguista de coração, admite uma possível candidatura à presidência do Sporting, em 2022. “Se, no final de todo este processo de parcerias, o grupo chegar à conclusão que eu sou o melhor preparado para alavancar o futuro do Sporting, nesse momento não irei virar a cara à luta”. Defensor da criação de pontes de entendimento, o empresário não tem dúvidas e garante: “Unidos seremos sempre mais fortes”.
Quando começou a sua paixão pelo Sporting Clube de Portugal?
A minha paixão pelo Sporting tem muito a ver com o tempo dos cinco violinos. Tenho memórias de ouvir os relatos de futebol, naqueles antigos rádios a pilhas. Quando estas acabavam a meio de um relato era um problema. Julgo que foram esses relatos que fizeram esta paixão nascer. Nomes como o Travassos, o Albano, o Jesus Correia, o Vasques e o Peyroteo tiveram uma influência fulcral na minha opção clubística. O meu pai nunca ligou ao desporto e os meus tios, do lado da minha mãe, são todos do Benfica, por isso eu é que fui a criança irreverente e optei pela grande dimensão dos saudosos cinco violinos.
Como vê o Sporting na atualidade?
O Sporting é um clube que sofre porque não é campeão há muitos anos. Por outro lado, este é um Sporting profundamente dividido, onde cada sócio defende que tem a solução na sua mão. Cada sportinguista tem o seu palpite e julga que se deveria fazer desta ou daquela forma. Aquilo que os sportinguistas ainda não perceberam é que ninguém é dono absoluto da verdade e que todos ganharíamos com o consenso, com a convergência e partilha de opiniões e contributos, sendo que só assim poderemos alavancar o clube rumo ao futuro. Enquanto cada um continuar a pensar que só a sua solução é boa, nunca conseguiremos evoluir. As pessoas têm que perceber que dirigir um clube, com sucesso, é, sobretudo, saber ouvir.
O atual conselho diretivo tem demonstrado que não devia ter sido eleito, sendo que nós, sócios, não tivemos o cuidado de acautelar devidamente os nossos representantes, analisando os seus defeitos, as suas qualidades e se, efetivamente, detinham as competências necessárias para desempenhar aqueles cargos. Assim, hoje, este é um conselho diretivo que padece de falta de experiência e de conhecimento para conseguir resolver as problemáticas que vão surgindo no clube. Esta é uma responsabilidade que, em primeiro lugar, nos cabe a nós, sócios. O atual conselho diretivo não estava preparado para a verdadeira dimensão do clube, basta ver as intervenções públicas e tomadas de decisão que apenas conseguem denegrir a imagem do clube. Parece que gerem a contabilidade do clube, como se de uma roulotte se tratasse. Com esta postura apenas conseguem baixar o valor dos ativos. Na praça pública já se fala que o Sporting não honra com os seus compromissos financeiros, ainda que tenha verba disponível para o fazer. Esta não é a postura de um clube que se diz de bem e apenas mancha a reputação que tantos sportinguistas lutaram para conseguir até aos dias de hoje, tanto em Portugal como no estrangeiro. Homens e mulheres altruístas que, abnegadamente, dispuseram do seu tempo, sem nunca receberem nada em troca. Resta saber que consequências este tipo de postura terá no futuro…
No último verão surgiram movimentos de sportinguistas com vista à sua candidatura à presidência do Sporting. Será candidato em 2022, ano em que estão previstas as próximas eleições?
As minhas intervenções mais recentes surgiram mais no sentido de colaborar, alertando para situações menos boas. A intenção nunca foi a de criar desunião. Apesar disso, também é verdade que um conselho diretivo nunca poderá excluir sócios, até porque a sua primeira preocupação deverá ser, precisamente, a da união de todos aqueles que amam e se identificam com o Sporting. A verdade é que, enquanto continuarem a existir sócios que não se sentem incluídos, o clube nunca estará pacífico. Perante esta desunião, como sócio, decidi intervir, uma vez que quero dar o meu contributo e honrar os antepassados sportinguistas que tanto trabalharam em prol deste clube. Os sportinguistas têm que perceber que têm um legado a defender, que tem que ser protegido, enaltecido e enriquecido.
As minhas intervenções são sempre no sentido de os sportinguistas perceberem que, apesar de diferentes, todas as opiniões têm pontos em comum, que o diálogo é salutar e de que, unidos seremos sempre mais fortes. Tenho tentado estabelecer pontes para que os sportinguistas com capacidade, com conhecimento, com experiência e com saber coloquem essas mais-valias ao serviço do clube. Não podem existir sportinguistas dispensados de dar o seu contributo. Se, no final de todo este processo de parcerias, o grupo chegar à conclusão que eu sou o melhor preparado para alavancar o futuro do Sporting, nesse momento não irei virar a cara à luta! Seja como for, só nos apresentaremos ao escrutínio dos sócios se estivermos convictos de que poderemos contribuir positivamente para o futuro do Sporting e de que podemos adicionar valor acrescentado ao já longo legado de sucesso deste clube. Devemos ser todos altruístas e deixar o futuro do Sporting nas mãos de alguém que seja verdadeiramente capaz. Serei no Sporting aquilo que os sportinguistas entenderem!
Em setembro enviou uma carta aberta a Frederico Varandas porque este decidiu “expulsar as claques de Alvalade”. Sendo um especialista na gestão de pessoas e na criação de pontes de entendimento, como viu esta decisão tomada pelo atual presidente?
Eu pedi para que ele reconsiderasse a decisão e optasse por não abrir mais feridas no interior do clube. Era importante a pacificação e não o início de uma nova guerra. Um clube com a dimensão do Sporting não pode estar em guerras constantes. Uma claque que apoia incondicionalmente o clube não pode ser o inimigo. Elas fazem falta, trazem alegria e criatividade ao estádio e apoiam os jogadores e a equipa técnica. Já conversei com as várias claques e estas são constituídas por pessoas valorosas, com competências. Claro que também existirão pessoas menos boas no seu seio, contudo isso acontece em todo o lado. Todas as pessoas têm defeitos e virtudes, pelo que considero que essa tomada de decisão do presidente foi precipitada, tendo motivado a minha indignação. Eu até me ofereci para fazer essa mediação mas a oferta foi recusada.
Eu sei que ser diretor desportivo e ser gestor de uma grande empresa ou associação são duas realidades diferentes. Contudo, num momento complicado como aquele que todos vivemos, não seria pertinente que o atual conselho diretivo criasse uma task-force de intervenção e aconselhamento, recorrendo aos sócios do clube? O clube tem como sócios homens e mulheres com créditos firmados e reconhecidos nas mais variadas áreas, pelo que o seu know-how acumulado é uma enorme mais-valia que deveria ser aproveitado e rentabilizado. E mais uma vez o afirmo se, em algum momento, considerarem que o meu contributo poderá ajudar a resolver determinada situação, estou completamente disponível para ajudar em tudo aquilo que conseguir.
É sempre um sócio muito ativo, dentro e fora das redes sociais. Circulam notícias de que pretende propor algumas alterações estatutárias. A implementação de uma segunda volta nas eleições para a presidência será uma dessas mudanças?
Efetivamente, já dirigi à Assembleia Geral do Sporting uma missiva, com o devido parecer jurídico, para que se estabelece que os futuros órgão sociais do Sporting só possam ser eleitos com 50 por centos dos votos mais um. Sei que alguns poderão não concordar comigo, contudo, julgo que, só desta forma, a liderança do Sporting poderá ser sustentada na efetiva maioria dos sócios que votaram. Se existirem diversos candidatos, uma lista com apenas 20% dos votos pode ser eleita, sem que os restantes 80% se revejam na sua eleição, o que é prejudicial para o futuro do clube. Assim, com uma segunda volta, a direção eleita estará legitimada e a base de apoio será muito maior.
Fui também muito interventivo no que concerne à possibilidade do Sporting instituir o i-voting nos seus próximos atos eleitorais, alegando o atual conselho diretivo de que este tornaria o voto acessível a todos, uma vez que os sportinguistas, com recurso às novas tecnologias poderiam votar quando quisessem e onde estivessem. A minha proposta é diametralmente oposta. Porque é que o ato eleitoral não se pode desenvolver nos diversos núcleos, fazendo das eleições um dia de romaria para os sportinguistas? Cada pessoa coloca o seu cachecol, vai à sua sede, conversa com os seus pares, revê os seus símbolos e as suas referências e vota presencialmente. Todas as medidas que sirvam para despojar o Sporting dos seus símbolos e das suas raízes, desvirtuando a sua génese não terão o meu apoio.
O Sporting sempre foi conhecido pela qualidade da sua formação, tendo em Cristiano Ronaldo o seu expoente máximo. Considera que a atual direção está a apostar devidamente nos mais novos? O que seria possível fazer de forma diferente?
O Sporting deve orgulhar-se efetivamente do seu departamento de formação. Foram muitos os jogadores de sucesso que foram formados na academia leonina. Neste momento, continua a ser o clube português que mais exporta atletas para os diversos campeonatos mundiais, o que significa que a academia continua a funcionar. Claro que podemos aferir de que este departamento não está a ser devidamente explorado em todas as suas potencialidades na atualidade. A formação tem que ser trabalhada com muita seriedade, intensidade e ambição. Para isso é necessário que o clube tenha uma estrutura bem dimensionada em Portugal e no estrangeiro, tudo para que possa captar talentos que depois irá trabalhar e transformar em futuros craques. Desta forma, estes jovens projetam o clube e contribuem para a sua sustentabilidade financeira.
Qual a sua opinião sobre a utilização das novas tecnologias, nomeadamente o VAR, no futebol? São estas uma mais-valia ou desvirtuam o jogo?
Todos temos que trabalhar em prol da verdade desportiva. Infelizmente, no decorrer dos últimos tempos, tem havido muita desconfiança no resultado dos jogos e na atribuição dos títulos. Não pode acontecer nada pior a uma modalidade: a desconfiança em relação aos órgãos que a sustentam. Existem clubes em Portugal que parecem intocáveis, ganham tudo e mais alguma coisa e depois, nas competições europeias, não conseguem vencer um jogo. A menos que o nosso campeonato esteja a perder qualidade e não consiga estar no mesmo patamar de outros campeonatos europeus, a explicação poderá estar na falta de verdade desportiva. As equipas mais pequenas não se esforçam porque sabem que os ditos grandes serão sempre beneficiados. Assim, todos os portugueses devem contribuir para a resolução desta problemática, tudo para que a verdade desportiva seja uma realidade. Assim, se o VAR contribuir para essa verdade e para que existam menos injustiças no futebol português apoio a sua utilização.
Uma mensagem a todos os sócios e adeptos do Sporting Clube de Portugal.
Gostava que todos os Sportinguistas acreditassem muito no trabalho técnico que está a ser desenvolvido no clube pela atual equipa técnica. Temos que apoiar todas as modalidades, independentemente das circunstâncias, da mesma forma que não nos devemos sentir constrangidos em dar a nossa opinião, se pensamos que estamos a alavancar o futuro do Sporting. Peço que ninguém se abstenha de dar o seu melhor contributo, honrando o esforço contínuo de todos os atletas.