“A pandemia mudou a economia”
Em entrevista ao Empresas+®, Miguel Rocha, engenheiro e responsável pela MG Rocha – Engenharia e Construções, fala sobre a atualidade no setor da construção civil e assegura que a “a pandemia mudou a economia” mas que a onda de choque só vai atingir a construção mais tarde, uma vez que, na atualidade, “as empresas continuam a laborar nos projetos já adjudicados. O problema virá quando esses projetos terminarem”.
A MG Rocha – Engenharia e Construções foi criada em 2006, em São João da Madeira. Miguel Rocha, responsável pela empresa, lembra como tudo começou: “Trabalhei durante vários anos no setor da construção civil com o meu pai e esta foi a evolução natural. Depois da crise, em 2016 a MG Rocha voltou aos bons resultados. O nosso crescimento começou a ser constante e seguro e nunca mais parou, nem mesmo com a atual pandemia”. Atualmente a empresa labora suportada numa equipa constituída por profissionais de excelência.
Especializada em obras públicas, construção e instalação de infraestruturas, como abastecimento de águas, saneamento e drenagens, movimentação de terras, construção civil e conservação/reabilitação, a MG Rocha tem no setor público os seus clientes primordiais. Miguel Rocha afirma que a empresa tem já a agenda preenchida até ao final do primeiro semestre de 2021. Depois disso, o empresário confessa que alguma incerteza.“Inquestionavelmente, a pandemia mudou a economia. O setor da construção civil ainda não sentiu essa mudança porque a onda de choque chegará mais tarde. Para já, as empresas continuam a laborar nos projetos já adjudicados. O problema virá quando esses projetos terminarem”. Para Miguel Rocha, os fundos comunitários previstos também não serão solução: “Grande parte desse valor ficará com as multinacionais. Depois, só com um processo moroso, alguma dessa ajuda chegará às pequenas e médias empresas. A grande questão é saber qual o tamanho da fatia da ajuda que chegará efetivamente às empresas mais pequenas, como a nossa”.
O empresário advoga ainda que o setor terá que se debater com um problema ainda maior: a falta de mão de obra, sobretudo especializada. “Conseguimos contratar não qualificados que ficaram desempregados em virtude da crise provocada pela Covid mas não conseguimos encontrar os verdadeiros artistas. Criou-se a ideia de que este é um setor difícil, pesado e repleto de pessoas com baixa qualificação escolar e profissional, uma espécie de última possibilidade para as pessoas terem algum sustento, que não corresponde à verdade. Infelizmente, não soubemos evoluir e apostar na formação dos nossos quadros, o que fez com que os mais velhos se tenham reformado e os mais novos, com a crise, tenham optado por emigrar, deixando o setor com o futuro muito indefinido”.
Concorrência e Fiscalização
Miguel Rocha reconhece que o setor da construção civil sempre se pautou por ter uma concorrência feroz. “Estão presentes no mercado muitas empresas pequenas, várias de cariz familiar, que optam por procurar desenfreadamente novos clientes, atraindo-os sempre com preços baixos. Neste momento, como a procura supera a oferta, a questão não se coloca. O problema está quando a oferta é muito superior à procura. Em alturas de crise, sobreviverão os melhores preparados”.
O empresário questiona ainda a atuação das entidades competentes responsáveis pela fiscalização do mercado. “Temos que assegurar que as empresas se adaptam às novas realidades. Apesar disso, não posso deixar de criticar a forma como as entidades atuam em matérias, como o amianto. A fiscalização tem que ser feita com rigor, contudo, não pode ser realizada sem ter em conta o esforço e dedicação das empresas. As entidades têm que perceber que a simples multa não acrescenta valor e não muda nada. Claro que as multas têm que existir e são necessárias, sobretudo para aqueles que prevaricam de forma dolosa e perpetuada. Porém, quando aplicadas de forma cega, acabam por criar problemas acrescidos, completamente desnecessários. Acima de tudo,tem que existir bom senso, formação e informação”.
Quanto ao futuro, Miguel Rocha admite que o objetivo será continuar a crescer. “Queremos continuar a gerar emprego e a acrescentar valor à economia, ainda que saibamos que a sua concretização estará dependente da forma como a economia irá reagir a esta crise”.