Combate depende de todos
Em entrevista ao Empresas +®, Fernando Queiroga, presidente da Câmara Municipal de Boticas, faz o balanço das consequências que a pandemia, provocada pela Covid-19, tem trazido para o concelho. Ainda que reconheça que as pessoas estão ansiosas para abraçar e estar junto daqueles que mais amam, o autarca aconselha: “Não arrisquem, não coloquem em causa a saúde dos vossos familiares e amigos. O combate a esta pandemia depende de todos”.
Que balanço faz da pandemia no Concelho que preside?
Atendendo à situação que ainda vivemos não posso fazer propriamente um balanço, até porque a pandemia ainda está ativa no nosso País e no mundo e, dadas as especificidades do vírus, esta é uma situação que pode mudar a qualquer momento.
Desde o início do surto de Covid-19 que a nossa prioridade passa por proteger a saúde dos nossos munícipes e estou agradado por constatar que o nosso empenho no combate à Covid-19 tem surtido efeito.
Por enquanto tem corrido tudo bem no concelho de Boticas, o que me deixa naturalmente satisfeito, mas apesar do panorama ser otimista, é com alguma preocupação e cautela que acompanho a evolução da situação epidemiológica no País e, em especial, na região do Alto Tâmega.
Sendo Boticas um território em que a maioria da população é envelhecida e tendo em conta que estamos no verão, época de férias e de regresso de muitos conterrâneos às suas aldeias, é fundamental que não haja comportamentos de risco, que coloquem em causa a saúde de todos, sobretudo dos nossos idosos.
Não podemos baixar a guarda, devemos continuar a ter os cuidados necessários para evitar a propagação no vírus na nossa terra.
Nesta fase da pandemia, pequenos gestos podem fazer toda a diferença. Temos de ser responsáveis e respeitar todas as normas e conselhos da Direção-Geral da Saúde e demais entidades.
Que explicações encontra para esses números? Como se processou o apoio aos mais idosos, grupo mais vulnerável a este vírus?
No meu entender, estes números explicam-se, por um lado, pela celeridade com que implementamos algumas medidas e, por outro lado, pela forma como, no geral, os nossos munícipes têm vindo a respeitar as recomendações das autoridades governativas e de saúde.
Desde logo, o encerramento de equipamentos e infraestruturas municipais, espaços propensos à propagação do vírus devido à grande afluência e circulação de pessoas, foi importante para prevenir possíveis focos de contágio no nosso concelho.
Depois, a autarquia e os Bombeiros Voluntários de Boticas prontificaram-se de imediato para ajudar as populações, através de um serviço de retaguarda disponível para fazer face às necessidades dos munícipes.
Unimos esforços para conseguir responder, com a máxima prontidão, a todas as solicitações e pedidos mais urgentes, sobretudo dos mais idosos e sem apoio familiar.
Tentamos perceber, com a ajuda das juntas de freguesia, quais as carências sentidas pela nossa população mais envelhecida e fomos respondendo a essas dificuldades consoante era preciso.
Que medidas excecionais foram tomadas pela Autarquia no sentido de apoiar os seus munícipes num primeiro momento e que alterações foram levadas a cabo agora no desconfinamento?
Tendo em linha de conta que o bem-estar da nossa população é uma das nossas prioridades, fomos implementando medidas que permitem mitigar alguns dos efeitos da pandemia na economia local e nos rendimentos das famílias.
Desta forma, aplicamos reduções e isenções nas faturas da água referentes aos meses de março, abril e maio, através da redução de 10% ao valor da fatura para todos os consumidores domésticos e a isenção de pagamento aos consumidores não-domésticos, que devido a esta situação foram obrigados a encerrar temporariamente os seus estabelecimentos.
Além disso, prolongamos o prazo de pagamento das faturas da água para 90 dias e suspender os cortes ou interrupções do fornecimento de água por falta de pagamento.
Com a entrada em vigor do plano de desconfinamento e retoma gradual das atividades económicas, decidimos que os proprietários de estabelecimentos com esplanadas podiam proceder ao aumento da área exterior, sem qualquer tipo de encargo financeiro.
A implementação desta medida permitiu aos comerciantes aumentar a capacidade de lotação dos seus estabelecimentos e cumprir todas as normas de segurança exigidas pela Direção-Geral da Saúde.
Continuamos a trabalhar no sentido de ajudar a minimizar o impacto negativo que a atual situação está a ter nos rendimentos das famílias e na saúde financeira dos comerciantes.
E os serviços municipais? Foi fácil a adaptação destes serviços a esta nova realidade?
Sim, a adaptação foi relativamente fácil. Os serviços municipais estiveram sempre em funcionamento, mas, para prevenir possíveis focos de contágio entre os colaboradores da autarquia, foram feitos alguns ajustes e alterações aos horários.
Nos casos em que isso foi possível, privilegiamos o teletrabalho, com grande parte dos funcionários a desempenhar as suas funções e a responder às solicitações dos munícipes a partir de casa, com a mesma dedicação de sempre.
No caso concreto do setor operativo, a melhor opção passou por implementar horários alternados, o que permitiu evitar a permanência prolongada dos trabalhadores no serviço, promovendo assim o distanciamento social.
Quanto às empresas, de que forma a Autarquia as está a apoiar? Teme que o desemprego suba de forma abrupta no Concelho?
O desenvolvimento da economia local também é uma das nossas prioridades. Sabemos, de antemão, as dificuldades que o setor empresarial está a enfrentar, mas estamos empenhados em minorar os efeitos da pandemia no concelho.
Estou confiante que não haverá uma grande subida do desemprego, no entanto, vamos fazer o que está ao nosso alcance para inverter essa situação.
Além dos apoios que referi anteriormente, estamos também a promover, em colaboração com a Mais Boticas – Associação Empresarial Botiquense, o programa “Viver Boticas”, dirigido a todos os comerciantes e restaurantes do concelho, que visa a dinamização da restauração e do comércio, através da entrega gratuita de cupões a todos aqueles que privilegiam os negócios da terra.
Depois de preenchidos, os cupões são validados para sorteio e os contemplados recebem vales de compra para gastarem nos comércios e restaurantes locais.
Esta iniciativa, além de impulsionar a economia, vai permitir incentivar as pessoas a comprarem e consumirem nos estabelecimentos do concelho.
Estamos confiantes que esta medida vai ter uma grande adesão. Contudo, e atendendo à situação que ainda vivemos devido à Covid-19, é importante que se respeitem as normas de acesso aos estabelecimentos comerciais e se continuem a tomar os cuidados necessários para precaver possíveis casos de infeção.
Poderíamos canalizar mais verbas para este setor, no entanto, e tendo em conta que a pandemia ainda está ativa, temos que nos precaver e estar preparados para ajudar a economia local na eventualidade de haver algum retrocesso nos próximos meses.
Como decorreu o 3º período do ano letivo no Concelho? As escolas conseguiram adaptar-se? A Autarquia teve alguma participação na preparação desta nova realidade?
Sem dúvida que este foi um final de ano letivo difícil e exigente para todos, o que originou um esforço acrescido por parte da comunidade escolar.
Com a suspensão das aulas presenciais, tanto os alunos, como os professores, os pais e encarregados de educação e a própria escola tiveram que se adaptar a um método de ensino diferente, feito à distância.
Porém, a autarquia esteve sempre disponível para colaborar com o Agrupamento Escolar e ajudar as nossas crianças e jovens.
Uma vez que nem todos os alunos tinham forma de aceder aos conteúdos enviados pelos professores, através das plataformas digitais, decidimos proceder à entrega e recolha semanal, diretamente nas casas dos alunos, dos conteúdos enviados pela escola, sob indicação dos respetivos docentes, o que permitiu que as crianças não fossem prejudicadas e tivessem acesso à educação de igual modo.
A cultura e o turismo são duas das áreas mais penalizadas com esta pandemia. Que peso têm estes setores na economia local e de que forma a Autarquiapretende contrariar este facto?
Sim, a cultura e o turismo, a par de outras áreas, foram bastante afetados pela pandemia, mas faremos os possíveis para reverter essa conjuntura.
Tudo aquilo que serve para mostrar a essência do concelho de Boticas é uma aposta nossa. Pretendemos dar seguimento à divulgação dos nossos produtos tradicionais de inegável qualidade, da nossa excelente gastronomia e do vasto património cultural, arqueológico e natural que merece ser conhecido.
Cada vez mais pessoas procuram lugares tranquilos, longe da confusão, onde possam passar férias e bons momentos em família ou com os amigos e o concelho de Boticas é o sítio ideal para isso, até porque integra a primeira região do País a ser distinguida como Património Agrícola Mundial.
Estou consciente que temos um longo caminho pela frente, mas ao mesmo tempo confiante que, aos poucos, vamos conseguir atrair mais visitantes ao nosso concelho e, assim, dinamizar o turismo e a economia local.
Reavivando a campanha do “Vá para fora, cá dentro”, de que forma o Município pretende atrair os turistas nacionais? Onde é que estes podem pernoitar e desfrutar a gastronomia local?
O nosso objetivo passa por dar a conhecer o que de melhor há e se faz em Boticas, cativando a atenção e a curiosidade dos turistas. Só assim é que eles vão sentir interesse em visitar e conhecer as potencialidades do nosso concelho.
Os visitantes têm à sua disposição vários restaurantes onde podem deliciar-se com pratos típicos como, por exemplo, o Cozido Barrosão, a truta do rio Beça, o cabrito assado no forno ou a deliciosa Carne Barrosã, detentora de Denominação de Origem Protegida.
Os restaurantes estão de portas abertas para receberem, em segurança, todos aqueles que queiram conhecer os nossos produtos e a nossa magnífica gastronomia.
Para quem queira pernoitar no concelho de Boticas há também várias opções de alojamento, entre casas de turismo rural e hotéis, sendo que pode ainda aproveitar da tranquilidade deste território para ficar hospedado num dos dois bungalows localizados no coração do Boticas Parque – Natureza e Biodiversidade.
Que balanço faz da gestão do Governo e da Direção Geral de Saúde de toda esta situação?
Tendo a responsabilidade de presidir a Comissão Distrital de Proteção Civil de Vila Real, considero que em termos distritais sempre houve uma excelente coordenação entre todas as entidades envolvidas no combate à Covid-19.
A realização de reuniões semanais possibilitou um acompanhamento rigoroso da situação epidemiológica no distrito e uma melhor articulação entre todos os organismos de saúde, agentes de proteção civil, forças de segurança, entre outras.
Para além de conseguirmos resolver as ocorrências que iam surgindo de forma célere e coordenada, a ativação do Plano Distrital de Proteção Civil logo no início da pandemia permitiu-nos controlar a propagação do vírus e evitar males maiores.
Quanto à gestão da pandemia a nível nacional, já não posso dizer o mesmo. A contrainformação e a falta de meios, de equipamentos e de testes de despistagem da doença foram as maiores dificuldades sentidas no distrito.
O Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro continua à espera de receber os equipamentos e os ventiladores prometidos pelo Governo.
Com esta situação constatamos que as desigualdades no acesso à saúde são cada vez maiores nas regiões do interior do País e que, mais uma vez, este território só é importante na altura das eleições, facto que me deixa obviamente desagradado.
Que expetativas tem para o futuro?
As expetativas são sempre as melhores. Espero que consigamos ultrapassar esta fase menos boa o quanto antes e que, dentro em breve, volte tudo ao normal.
Até lá não podemos baixar a guarda, temos que continuar a tomar os devidos cuidados e as precauções necessárias para debelar o surto pandémico de Covid-19.
Este está a ser um ano atípico e complicado para todos, mas se cada um fizer a sua parte, se formos responsáveis e cumprirmos as orientações das autoridades de saúde, é tudo mais fácil de superar.
Deixe uma mensagem final a todos os munícipes.
Atendendo à crise sanitária que ainda atravessamos as minhas palavras não poderiam ir noutro sentido senão o do apelo ao sentido de responsabilidade e civismo de todos.
Nunca como agora foi tão importante a união e entreajuda no combate a um inimigo invisível, mas bastante perigoso. Não podemos facilitar, nem pensar que o pior já passou. Temos que nos manter atentos, evitar comportamentos de risco e proteger a nossa saúde e a saúde de todos os que nos rodeiam.
Zelar pela saúde e bem-estar da nossa população continua a ser a minha prioridade, mas para que tal seja possível, preciso da colaboração e apoio de todos os meus concidadãos, em especial daqueles que por esta altura do ano regressam às suas aldeias para passar férias.
Sei que estão ansiosos para abraçar e estar junto daqueles que mais amam, mas não arrisquem, não coloquem em causa a saúde dos vossos familiares e amigos.
Protejam-se e cumpram todas as orientações das autoridades de saúde.
O combate a esta pandemia depende de todos. Conto convosco.