O segredo mais bem guardado de um Alentejo diferente
Em entrevista ao Empresas+®, José Pio, presidente da Câmara Municipal de Gavião, faz o balanço do primeiro ano, do seu terceiro mandato, como autarca deste que é “um concelho bem estruturado, focado na modernidade, com todos os serviços essenciais disponíveis para os nossos munícipes, neste que é o segredo mais bem guardado de um Alentejo diferente”. O autarca sente que hoje, o concelho está diferente, virado para o futuro. “Daqui a três anos, quando esta missão terminar, sairei de consciência tranquila, sabendo que deixei as condições necessárias para que quem me suceda possa continuar a fazer este trabalho de evolução e de crescimento”.
Olhando para trás, José Pio, presidente da Câmara Municipal de Gavião, reconhece que este último ano tem sido, sobretudo, de continuidade em relação ao trabalho levado a cabo no último mandato. “Já conseguimos concluir algumas obras que estavam em execução, assim como lançamos novos projetos que terão continuidade no âmbito do novo quadro comunitário de apoio. Assim, naturalmente, o balanço que fazemos deste primeiro ano de mandato é extremamente positivo, até porque conseguimos implementar, no concelho, um conjunto de importantes estruturas que nos permitem encarar o futuro com muita tranquilidade. Neste momento, somos um concelho, com futuro, que merece ser descoberto. Queremos que mais pessoas nos visitem e que nos conheçam, porque facilmente irão perceber que somos um concelho bem estruturado, focado na modernidade, com todos os serviços essenciais disponíveis para os nossos munícipes, neste que é o segredo mais bem guardado de um Alentejo diferente”.
O autarca explica que, ao longo dos últimos oito anos, o Executivo fez uma aposta muito clara no desenvolvimento do setor do turismo na região, o que representou um grande investimento financeiro realizado pelo Município. “Temos a consciência de que, num concelho do Interior do País como o nosso, esta era uma aposta que urgia realizar, uma vez que, só assim, poderíamos garantir que mais pessoas nos iriam conhecer e a todas as nossas mais-valias. Hoje, são já ex-líbris da região a Praia do Alamal e os nossos passadiços que, felizmente, este verão, já estão a funcionar em toda a sua plenitude. De destacar ainda o nosso Centro de Observação de Avifauna do Outeiro, situado entre a paisagem deslumbrante do Tejo e que permite uma ampla vista sobre o vale do maior rio da Península Ibérica, sendo que apresenta várias formações rochosas e fragas, apreciadas pelas aves de rapina para nidificar, o que faz com que, atualmente, albergue a maior colónia de grifos em território nacional, para além de outras espécies rupícolas ameaçadas, como a cegonha-preta e a águia perdigueira. Estamos muito vocacionados para o turismo natureza e para a observação de aves e as nossas portas estão sempre abertas para receber, da melhor forma, todos aqueles que nos queiram visitar”. José Pio admite que falta apenas terminar as obras da piscina descoberta que estão agora a entrar na sua fase final. “Este será um projeto inovador e diferenciador na região, uma vez que o fundo é em areia, ainda que fixa. Estou confiante de que esta infraestrutura tornar-se-á uma referência e merecerá a visita de muitos portugueses”, completa.
Apesar desta aposta inequívoca no turismo, o autarca garante, contudo, que o Executivo nunca poderia descurar todas as outras vertentes que garantem a qualidade de vida de todos aqueles que escolheram Gavião como parte do seu projeto de vida. Assim, José Pio revela que o setor da educação irá sair reforçado ao longo deste mandato, sobretudo no que diz respeito à qualidade do ensino que é praticado no Concelho, assim como ao nível das infraestruturas existentes. “Já iniciamos a ampliação do edifício sede do nosso agrupamento de escolas, obra que resulta de uma candidatura realizada no âmbito do anterior quadro comunitário de apoio e que foi aprovada no final de 2021, onde foi elegível um investimento de 740 mil euros. Porém, este valor não tem incluído o projeto e a fiscalização da obra, pelo que o Município irá comparticipar com cerca de 100 mil euros a obra. O mais importante é que, no final da empreitada, o concelho terá uma escola quase nova. Sabemos que esta obra terá a duração previsível de um ano, o que irá causar alguns constrangimentos na dia a dia da comunidade escolar, contudo, iremos encetar todos os esforços possíveis para que esses constrangimentos sejam os menores possíveis”.
Paralelamente, o autarca garante que o setor do emprego não será descurado, até porque “se queremos que as pessoas fiquem no Interior, é necessário que existam postos de trabalho disponíveis. Neste sentido, estou confiante que o ninho de empresas que inauguraremos muito brevemente se constituirá como um motor fundamental de desenvolvimento na região”. Este equipamento albergará 13 empresas e resulta num investimento de 1,3 milhões de euros. O edil assevera que, para além disso, o Executivo também pretende continuar a apostar na construção de apoio de infraestruturas de apoio às unidades industriais, motivo pelo qual adquiriu, recentemente, um terreno de 18 hectares, onde irá instalar uma segunda zona industrial. “Felizmente, a zona industrial já existente está completamente ocupada, ainda que isso não signifique que os postos de trabalho criados correspondam àquela que era a nossa ambição. Assim, acreditámos que este segundo espaço, até pela sua dimensão, conseguirá albergar empresas maiores que, desta forma, irão criar novos postos de trabalho”.
Por fim, José Pio destaca o apoio que o Município dá às diversas instituições de solidariedade social (IPSS) que trabalham e que estão fixadas neste concelho “que continua a ser extremamente envelhecido. Esta é uma aposta deste Executivo que nunca poderá ser descurada. Estas instituições necessitam incessantemente de todo o nosso apoio e suporte, por forma a que consigam continuar a realizar todo o trabalho meritório que fazem junto da nossa população mais velha”, acrescenta.
Desafios passados e futuros
“Encaramos a pandemia com muita preocupação desde o primeiro momento. Atualmente, apesar da melhoria de condições, a preocupação continua vigente, uma vez que o concelho permanece com vários munícipes infetados, ainda que estes, felizmente, não sejam casos severos da doença. Seja como for, o mais importante é que estivemos sempre ao lado dos nossos munícipes, disponíveis para os ajudar em tudo aquilo que pudéssemos”, garante o autarca que assegura que o Município não teve gastos com a Covid. “O que fizemos foram importantes investimentos para que as pessoas do Gavião tivessem, durante este período conturbado, a melhor qualidade de vida possível, respeitando sempre todas as regras. Distribuímos imensos equipamentos de proteção individual, assim como disponibilizámos profissionais que realizaram apoio psicológico aos mais frágeis. Apoiámos ainda toda a população do ponto de vista social e distribuímos refeições, quando as pessoas estavam impedidas de se deslocar. Juntamente com o Agrupamento de Escolas, acompanhámos e debelamos as diversas dificuldades das nossas crianças, nomeadamente com a distribuição de refeições a todos os alunos dos escalões 1 e 2. Era importante que as pessoas continuassem a ter acesso a alimentação de qualidade, apesar da aprendizagem estar a decorrer à distância. Ainda que tenhamos encetado todos os esforços e que tenhamos feito tudo aquilo que podemos, a verdade é que gostaríamos de ter feito mais.
Sinto que as pessoas reconhecem o esforço que fizemos no sentido de minimizarmos, ao máximo, todas as consequências que a Covid acarretou. Este foi um grande desafio para todos, mas conseguimos responder à exigência do momento”.
José Pio lamenta, porém, que a pandemia ainda não esteja vencida e o mundo já esteja a lidar com outro grave problema: as consequências negativas para a economia resultantes da guerra entre a Ucrânia e a Rússia. “O preço dos bens essenciais tem sofrido aumentos consideráveis, acontecendo o mesmo com os combustíveis, o que faz com que sintamos que os gavionenses se retraiam na aquisição destes produtos. Pior que isso, é o facto da crise económica também retrair a capacidade de investimento dos privados, situação que a Autarquia procurará contrariar. É por isso que já decidimos manter as medidas de apoio ao comércio e ao consumo que estavam em vigor durante a pandemia. Queremos, dentro do possível mitigar as potenciais consequências deste conflito na nossa economia”. O autarca deseja ainda que, “de uma vez por todas, exista a capacidade dos países perceberem que as fronteiras são uma linha imutável que deve ser sempre respeitada. Nada melhor do que viver em paz com os nossos vizinhos. Assim, defendo que a postura da Rússia não esteve à altura daquela que seria expectável no século XXI, onde, através de conversações presenciais todas as questões são passíveis de resolução. O conflito armado é sempre a pior escolha, até porque quem mais irá sofrer serão aqueles que não têm qualquer culpa e qualquer intervenção no conflito. Se falarmos de crianças ainda fico mais chocado, pelo que posso apenas ter palavras de repúdio em relação a esta decisão que a Rússia tomou, através do seu presidente, um homem que se julga dono do mundo. Infelizmente, ele ainda não percebeu que nunca será capaz de determinar uma nova ordem mundial”.
Investimento esquece o Interior
“Infelizmente o Plano de Recuperação e Resiliência [PRR] está pouco ou nada vocacionado para as autarquias de pequena e média dimensão como Gavião. Os investimentos estarão todos centrados em Lisboa, Porto e Algarve, o que faz com que distribuição destes fundos, de suma importância, não cumpra os critérios da discriminação positiva do Interior do País. É irrefutável que este investimento era extremamente importante para o Interior, era lá que era mais necessário, até porque as grandes autarquias têm uma capacidade para obter receita que é impossível no Interior, fato que deveria ter sido tido em conta. Apesar disso, estou confiante de que ainda conseguiremos obter algumas mais-valias deste plano para os nossos territórios”, revela José Pio.
O edil também não esquece o novo quadro comunitário de apoio Portugal 2030, “teremos apenas que estar atentos a todas as oportunidades que possam surgir para conseguimos alavancar o desenvolvimento do Município. Apesar disso, não posso de deixar de ressalvar um problema estrutural que sinto que afetou os vários quadros comunitários que se desenvolveram ao longo dos últimos anos, assim como o PRR: temos que ser capazes de convencer a Comissão Europeia de que necessitamos de apoio para a revitalização e manutenção de todas as vias municipais. O alcatrão é extremamente caro e para conseguirmos a revitalização de um mero quilómetro temos que gastar milhões, o que faz com que seja lamentável que não consigamos candidatar a intervenção nestas vias, que estão sob a nossa alçada, a qualquer tipo de fundos comunitários. É impossível continuarmos permanentemente a fazer remendos, pelo que é fundamental que este paradigma mude e que possamos ter a manutenção destas vias contemplada por fundos comunitários”.
Por último, no que concerne à transferência de competências para as autarquias por parte do Poder Central, José Pio confessa-se um acérrimo defensor desse processo. O autarca explica que, no Município, esta foi uma transição tranquila e realizada sem qualquer percalço. Ainda assim, acrescenta que, no que diz respeito à educação, os municípios deviam ser compensados de uma forma diferente. “Esta é uma preocupação que tenho levado às reuniões com a DGEstE – Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares. Reconheço que o facto de sermos um pequeno município, apenas com um agrupamento de escolas, facilite a criação de sinergias, algo impossível numa grande metrópole, como o Porto, ainda que não concorde com a tomada de decisão do seu presidente de abandonar a Associação Nacional de Municípios. É através de negociações que conseguimos encontrar consensos. Temos que ser reivindicativos, sem nunca sermos radicais. O importante é que encontremos pontos de equilíbrio. Apesar disso, é verdade é que o valor que nos é entregue pelo Estado não é suficiente para garantirmos a qualidade do ensino. Neste momento, somos compensados apenas em cerca de 50 por cento do valor que investimos neste setor, ainda que não tenhamos sentido quaisquer problemas em mais nenhuma área. Tudo tem corrido muito bem, pelo que o balanço é extremamente positivo”, completa.
Mensagem a todos os munícipes
“Sinto-me um privilegiado por ser o presidente desta Autarquia. Sinto que, hoje, o concelho de Gavião está diferente, virado para o futuro. Daqui a três anos, quando esta missão terminar, sairei de consciência tranquila, sabendo que deixei as condições necessárias para que quem me suceda possa continuar a fazer este trabalho de evolução e de crescimento. É esta a nossa ambição e a mensagem que queremos deixar a todos os gavionenses e a todos aqueles que nos visitam: venham conhecer o Gavião, um Alentejo diferente, onde fazemos tudo a pensar nas pessoas”.