Qualidade e rigor na defesa do património
A AOF é uma empresa familiar, com mais de meio século de atividade, especializada na reabilitação, conservação e restauro do património edificado. Com uma aposta clara na qualidade, rigor
e profissionalismo de toda a sua especializada equipa de trabalho, a empresa recorre à utilização de métodos e materiais tradicionais, aliando-os aos novos materiais e tecnologias.
Filipe Ferreira, engenheiro civil e atual responsável pela AOF, juntamente com os seus dois filhos, recorda que tudo começou com o seu pai, um apaixonado pelo património e pelas construções antigas. Por causa disso, em 1955, abandona a carreira como docente e cria a AOF, uma empresa direcionada para a reabilitação, conservação e restauro do património construído. “Nem sempre foi fácil, mas a empresa foi crescendo e consolidando a sua posição no mercado. Em pouco tempo, começámos a laborar com o Estado na conservação de todo o património nacional, nomeadamente, mosteiros, igrejas, conventos e nunca mais parámos de crescer. Hoje também os meus filhos estão ligados a esta área na medida em que um é engenheiro e a outra é arquiteta. Ambos fazem já parte da equipa AOF, pelo que a terceira geração já está assegurada”.
Neste momento, a AOF é uma empresa certificada pela norma ISO 9001 e tem como principais áreas de intervenção a execução e restauro de coberturas de edifícios; a conservação e restauro de alvenarias de pedra (granito, calcário, entre outros) e a execução de cantarias; a realização de trabalhos de carpintaria e execução de estruturas de madeira; o reforço de estruturas tradicionais, de pedra e madeira, entre outras; a conservação e restauro de tetos em madeira e estuque, com acabamentos a pintura ou douramentos; a pintura mural e cavalete; e o restauro e conservação de talha dourada. “Trabalhamos em parceria com a Direção Geral do Património Arquitetónico, com as diversas direções regionais de cultura, com as várias universidades que são detentoras de património fabuloso, para além de algumas misericórdias e clientes particulares. Já laborámos também com algumas autarquias e reconhecemos que estas estão cada vez mais focadas em conservar e restaurar o património concelhio, o que é de louvar. A autarquia de Braga, por exemplo, até já tem o prémio Reabilita Braga, que já contou com duas edições, sendo que fomos os vencedores da primeira”, advoga o empresário.
Especialistas na defesa do património
“No fundo, somos especialistas na defesa do património, assim tanto podemos fazer o restauro e conservação de uma catedral inteira, como podemos ter esse cuidado com um simples quadro. Temos uma secção especializada em estuques, outra em madeiras, pintura mural, pintura de cavalete, pedra, entre muitos outros. Conseguimos trazer de novo à vida todas as áreas e aspetos de um edifício, até mesmo no que concerne à arte sacra”, explica Filipe Ferreira.
A empresa realiza sobretudo obras públicas e diocesanas, dependentes de concursos públicos exigentes e rigorosos. “O caderno de encargos está de tal forma dissecado, que é de vital importância, por exemplo, a garantia da presença de um técnico superior em conservação e restauro especializado em cada uma das áreas a intervencionar. De acrescentar ainda que cada um destes técnicos, para além da formação superior, tem que ter comprovativo de outras formações realizadas e recomendações, o que torna todo o processo ainda mais complexo e moroso. Falamos de intervenções muito rigorosas, não só do ponto de vista técnico, mas também formal e burocrático, alvo de múltiplas inspeções e temos que dar sempre o nosso melhor, até porque o risco que corremos é grande. Um erro, um passo dado em falso e determinada obra pode ter irremediavelmente perdida”, esclarece o engenheiro civil.
Ainda assim, Filipe Ferreira defende que a política levada a cabo em Portugal é conservadora e não restauradora, ou seja, “não colocamos as peças como eram na antiguidade, em muitos casos apenas evitamos a sua degradação presente e futura, conservando-as. Para quê realizar uma ação mais interventiva se, daqui a uns anos, mercê a evolução das técnicas, o poderíamos fazer de forma menos invasiva e com maior qualidade? Defendemos que muitas vezes é preferível uma não intervenção a uma má intervenção. Esta postura mais conservadora também nos dá algumas garantias, até porque respondemos sempre perante a tutela. Assim, caso algum trabalho não fique conforme, as entidades responsáveis deram o seu aval para que assim fosse”.
Neste momento a AOF está envolvida nas obras de restauro no Palácio de Queluz, no Teatro São Carlos, na Igreja do Espírito Santo, em Évora, no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha e irá avançar para uma nova fase de obra no Palácio das Necessidades, em Lisboa. A empresa está com o calendário de obras completamente preenchido para o presente ano, sendo que a agenda para 2022 também já está delineada. “Enquanto que em muitas empresas quanto mais obras melhor, se eu não puder fazer dou em subempreitada a este ou aquele, connosco isso não pode acontecer devido à especificidade de cada trabalho que realizamos. Não podemos correr o risco de defraudar as expectativas dos nossos clientes”, assegura o empresário.
Filipe Ferreira assevera que o que a maior parte das empresas faz na atualidade não é restauro, mas sim reabilitação e muita dela com base apenas no fachadismo, uma vez que se mantem a fachada e todo o interior do edifício é destruído e alterado. “Em alguns casos essa intervenção até faz sentido, uma vez que o edifício já sofreu outras alterações e esta é a forma de lhe dar alguma dignidade, noutras este tipo de intervenção não era necessária. Ainda assim, quero acreditar que as diversas tutelas estão atentas e que estas não permitem a destruição de património”.
O melhor tem um preço
Com uma equipa de trabalho composta por 80 profissionais, onde se destaca a presença de um técnico superior em conservação e restauro em todas as áreas nas quais a empresa realiza intervenções, o que se institui como uma importante mais-valia, a AOF tem como objetivo trabalhar sempre com os melhores. “Sabemos que os clientes não ficam satisfeitos com menos do que isso e nós também não. Claro que toda esta especializada se reflete no valor salarial alcançado por estes profissionais de excelência. O melhor tem um preço”, explica o engenheiro civil.
Apesar disso, o empresário explica que a AOF também se debate com a problemática da falta de mão de obra que afeta de forma transversal todo o setor da construção civil. “Infelizmente as pessoas preferem profissões onde sabem que não existe trabalho, em detrimento de áreas onde o emprego seria não só garantido, como bem renumerado. Sabemos que este é um trabalho dito pesado e exigente, contudo é devidamente remunerado. É uma pena que as antigas escolas industriais tenham deixado de existir. As entidades competentes deveriam apostar mais na formação profissional e dar resposta às necessidades do tecido empresarial”.
Filipe Ferreira revela que, apesar dos convites à empresa ainda não iniciou o seu processo de internacionalização. “Sentimos que este ainda não é o momento, até porque não falamos de obras que pudéssemos realizar confortavelmente à distância. Parte da nossa equipa teria que se deslocalizar, sendo que depois seria de extrema dificuldade encontrar os restantes profissionais no país de chegada para a realização da obra, tal a especificidade do nosso trabalho. Se falarmos de uma tela, podemos recolhê-la, restaurá-la nas nossas instalações e devolvê-la, algo que não é possível fazer com um edifício. Já equacionamos essa possibilidade, já realizamos alguns contactos e esta é uma oportunidade que está em estudo. Apesar disso, ainda que pudéssemos avançar, por exemplo, para a vizinha Espanha, por uma questão de proximidade, a verdade é que os espanhóis são muito nacionalistas. Julgo que seria mais fácil a nossa incursão em França, Itália ou até mesmo Reino Unido. Itália, por exemplo, é conhecida como a capital mundial da arte do restauro”.
O empresário advoga que, neste momento, a empresa está a realizar o investimento na aquisição de novos equipamentos para o laboratório de Conservação e Restauro, “não só para proteger a saúde dos nossos funcionários, até porque trabalhamos com químicos agressivos para o corpo humano, apostando no restauro verde, mas também para podermos oferecer soluções com ainda maior qualidade a todos os nossos clientes”. Apesar disso, Filipe Ferreira confessa alguma relutância e incerteza em relação ao futuro. “Desde a nossa fundação já passámos por outras crises, nomeadamente o 25 de abril e a recente crise no setor da construção civil já em 2009/2012. Contudo, e apesar de perspetivamos a vinda de um novo ciclo de crise, a verdade é que continuamos sem mão de obra disponível para trabalhar o que não faz sentido. Os mais jovens não se interessam por esta arte, pelo que nos resta continuar a laborar com base na qualidade e acreditar que, no futuro, seremos capazes de vencer mais este desafio”.