Um exemplo de força e superação
Situado no distrito de Santarém, Mação é o concelho português que mais área viu arder em 2017. O último ano foi, sobretudo, um ano de regeneração. Reerguer o concelho “das cinzas” tem sido o principal objetivo de Vasco Estrela, presidente da Câmara Municipal de Mação, que assumiu como foco e prioridade o apoio à população do concelho.
Vasco Estrela assume, pela segunda vez, a presidência da Câmara Municipal de Mação, após vencer as últimas eleições com 65,49% dos votos. Um mandato que ficará marcado pelos grandes incêndios que assolaram o concelho, em julho e agosto passado, mas que será também relembrado pela força e determinação do seu executivo e população, que perante a adversidade uniu esforços e hoje se reergue mais forte do que nunca.
As pessoas são a prioridade
É com a tragédia ainda bem presente na memória que Vasco Estrela relembra o pesadelo vivido, o verão passado, no concelho de Mação. Mação foi o concelho português com maior área ardida em 2017, estima-se que cerca de 70% a 80% do território foi consumido pelas chamas. Reerguer “das cinzas” o concelho tornou-se o principal objetivo de Vasco Estrela e restante executivo camarário que, ao longo do último ano, estabeleceu como prioritário o apoio à população do concelho. “Como, infelizmente, se compreende, e estando a falar do concelho que mais ardeu no ano de 2017, é normal que muitas das atenções da câmara municipal se tenham virado para aquilo que são as necessidades das pessoas, para a necessidade de elaborar um conjunto de candidaturas que tivemos de fazer aos diversos organismos, no sentido de podermos ser ressarcidos dos prejuízos que tivemos e que a própria população teve”, conta Vasco Estrela que assume que “essa foi a nossa principal prioridade, ajudar as pessoas a recuperar”. O acompanhamento dado à população e o apoio na reabilitação das casas ardidas não impediu o executivo de dar seguimento ao projeto previsto para o concelho e várias foram as apostas em prol do seu desenvolvimento. “Iniciámos os processos necessários à elaboração e concretização dos projetos que estão no âmbito da regeneração urbana da vila de Mação e concluímos já um desses projetos. Fizemos um conjunto de intervenções, em localidades do concelho, que entendíamos necessárias e fizemos também os procedimentos necessários para a obra do núcleo museológico, em Ortiga”, conta o autarca, que destaca ainda o trabalho desenvolvido na área da ação social. “No que diz respeito à área social demos apoio às famílias mais carenciadas, com a comparticipação de medicamentos, através de um protocolo que fora estabelecido e, também, através de um outro protocolo, disponibilizámos os manuais escolares aos alunos do ensino secundário, com um desconto até 80% , que era uma medida que, também tínhamos prevista no nosso programa”.
Um trabalho intensivo e que Vasco Estrela vê com satisfação. “Apesar de tudo aquilo que nos aconteceu, apesar da necessidade que houve deste acompanhamento bastante presente, fomos cumprindo com aquilo com que nos tínhamos comprometido para com a população. Passado quase um ano do início do mandato, conseguimos, penso eu, começar a dar os passos para concretizar aqueles que foram os nossos compromissos com os nossos eleitores”, afirma.
Descentralização de competências
“Tem sido um processo atribulado”, avalia Vasco Estrela. O autarca acredita que a descentralização de competências constitui uma mais-valia para o concelho, devido à política de proximidade que o processo traz associada, no entanto, não deixa de salientar que não estão devidamente clarificadas todas as informações necessárias às autarquias. Nesse sentido, o edil mostrou-se satisfeito com a posição tomada por parte de alguns municípios e associações de municípios que, na procura de respostas mais esclarecedoras, questionaram o Governo quanto à forma como o processo de transferência de competências estava decorrer. “Felizmente, alguns autarcas e associações de municípios pediram esses esclarecimentos e isso mostrou ao Governo que era necessário ter alguma cautela na forma como as coisas estavam a ser feitas, porque aquilo que era suposto acontecer e que iria acontecer, era recebermos um conjunto de competências sem sabermos, com rigor, o respetivo acompanhamento financeiro”, afirma. Na visão do autarca esta deve ser uma questão discutida e repensada, uma vez que “esta descentralização terá, nas pessoas e na estrutura das câmaras municipais, um impacto muito grande. Acho que era importante haver aqui algum tipo de conversa e troca de opiniões sobre a forma como as coisas devem ser feitas”, explica Vasco Estrela que acrescenta ainda que, “não se perderia nada se houvesse
conversações, trocas de opiniões, porque vão haver impactos grandes. Portanto, acho que era necessário um período de reflexão e de partilha de conhecimento e, sobretudo, de explicação do que vai acontecer”.
“Infelizmente, chegamos ao fundo”
O mau ordenamento do território ou a falta dele constituem para Vasco Estrela “uma verdadeira tragédia”. A experiência vivida no passado trouxe para o presente a consciência da necessidade de uma intervenção rápida e eficaz no ordenamento territorial. Para o autarca de Mação, “falar de ordenamento do território é falar em algo que não existe”. Segundo o próprio, “estamos exatamente como estávamos há um ano” e até mesmo o Governo parece estar consciente da evidente lacuna a nível nacional. “Depois de reconhecer que não há ordenamento nenhum, nem ordenamento em termos de floresta, é que o Governo optou, e penso que bem, este ano, por focalizar toda a sua atenção, juntamente com a Proteção Civil, na proteção única e exclusiva das pessoas. Isto acontece, porque já percebeu que é impossível combater e controlar incêndios em Portugal. Infelizmente, chegamos ao fundo. Quando isto já está assim, penso que está tudo dito”, afirma. Quando questionado sobre a possível reativação de algumas freguesias do concelho, anteriormente alvo da reorganização administrativa, Vasco Estrela mostra-se aberto a uma possível alteração administrativa das freguesias de Mação.
“Se o Governo quiser retomar a disposição das freguesias, não vejo qualquer impedimento nisso. Digo, contudo, que pelo que consigo observar da atual experiência, as coisas estão a resultar. É uma situação que está consolidada, que as pessoas aceitam e, pelo que me venho a aperceber, as pessoas não perderam com esta nova realidade”, afirma o edil que, no entanto, alerta para a necessidade, acima de tudo, de se conhecer e levar em consideração o desejo da população. “Se esse assunto for de facto posto em cima da mesa, considero que o mínimo que deverá ser feito é ser estudado pelos órgãos competentes e ser consultada a vontade da população”. Da nossa parte manteremos aquilo que dissemos na altura e seremos coerentes.
“O último ano foi um ano de sucesso”
“Desde que estou na câmara municipal, este foi, seguramente, o ano que, em termos turísticos, melhor correu. As praias fluviais, o nosso parque de campismo, as unidades de alojamento local e de turismo rural tiveram um extraordinária afluência”, afirma Vasco Estrela. É no concelho de Mação que podemos encontrar a única praia fluvial do Interior que tem bandeira azul há 12 anos consecutivos, uma mostra viva do que Mação tem para oferecer a quem o visite. Não só de beleza natural se faz este território ribatejano/beirão, a realização de eventos culturais de referência tem sido uma aposta do município que conta com a participação, imprescindível, de diversas associações do concelho.
“Em termos genéricos, os eventos que a câmara municipal organizou correram bem. A câmara apoiou também vários eventos realizados por associações locais, quer eventos desportivos, quer eventos culturais e recreativos, que de uma forma geral correram bastante bem. O último ano foi um ano de sucesso. As pessoas aderiram e quem organizou esses eventos, quer sejam associações, quer a câmara municipal, penso que estiveram à altura”, conta Vasco Estrela.