“A função do arquiteto é silenciar o próprio ego em detrimento da obra a construir”
O Empresas+® foi conhecer o Espaço dos Projetos, um gabinete que desenvolve projetos na área da arquitetura e respetivas especialidades, tais como design de interiores, consultoria, eventos de arquitetura e arte de carácter efémero e de intervenção no espaço público.
Formado em 2010 e composto por dois arquitetos, Pedro Catarino e Lubélia Reis, ambos formados pela Universidade Lusíada de Lisboa, em 2006, o Espaço dos Projetos começou por se instalar na cidade lisboeta, na Rua da Junqueira, “de modo a criar identidade própria, com o objetivo de desenvolver vários tipos de projeto nas áreas da arquitetura, design e artes plásticas”, afirma. Atualmente, a empresa está sediada em Silves, na região algarvia, de onde é natural Lubélia. Simultaneamente ao trabalho realizado no atelier, os arquitetos iam delineando os seus percursos profissionais, de forma independente, com projetos de natureza diversa, desde projetos de reabilitação urbana a concursos de arquitetura. Todavia, o Espaço dos Projetos não teve sempre um caminho fácil para percorrer. Quando a empresa surgiu, a construção civil encontrava-se num período de recessão e, consequentemente, muitos projetos realizados pelos arquitetos acabariam por não avançar. “A crise estava para ficar, a nossa profissão perdia muito valor e a nossa geração de arquitetos, que queria arrancar para trabalhar individualmente, foi forçada a adiar essa realidade. Teve de se adaptar e reinventar. Reconhecemos que poderíamos ter saído do país, como a maioria dos nossos colegas fez, mas poucos são hoje os que voltaram. Portanto, tivemos que arranjar estratégias para ultrapassar a crise, até mesmo sair da nossa zona de conforto, pessoal e profissional”, revela. Porém, e como refere o popular ditado, “depois da tempestade vem a bonança”, e, de facto, o Espaço dos Projetos manteve-se resiliente e avistou uma oportunidade que permitiu a sua recuperação após a crise financeira. Perante um convite para fazer parte da equipa de projeto para a reabilitação da Escola Secundária de Silves, ao abrigo da Parque Escolar, o atelier muniu-se de força para fazer face ao que, pela frente, viesse. Deste modo, criou a estrutura que, atualmente, mantém. “Esta situação fez com que tivéssemos uma maior capacidade de adaptação e sobrevivência. Os nossos percursos profissionais não só foram afetados pela crise, como acabaram por ser profundamente moldados por ela. Nós fazemos parte da chamada ‘geração à rasca’ ou desenrascada. Tudo isso foi importante na forma como organizamos as nossas vidas e o atelier”, acrescenta. Recentemente, o desígnio da empresa sofreu uma alteração. De forma estratégica, o nome “Espaço dos Projetos” foi substituído pela sigla “EdPs Arquitetos”, uma ação de marketing com o intuito de facilitar a divulgação do gabinete, nomeadamente, nas redes sociais. Além disso, “é uma nova forma de energia arquitetónica, que em termos gráficos é mais fácil e fica no ouvido”, declara.
“Temos de conhecer os seus hábitos e com eles partilhar memórias”
A relação com os clientes é um elemento crucial na área da arquitetura, especialmente, quando são clientes finais, como é o caso do público do EdPs, porque é para eles que os profissionais realizam projetos pessoais e de carácter intimista, com que se deparam diariamente. “O primeiro ponto no contacto com o cliente é a empatia. Para conseguirmos dar uma resposta às expectativas dos clientes, temos de conhecer os seus hábitos e com eles partilhar memórias, o que é uma grande mais-valia para o espaço que está a ser desenhado. Temos como princípio, a proximidade e apoio ao cliente em todo o processo”, refere. Tal como foi explicado ao Empresas+®, o papel do arquiteto na projeção de uma obra é o de (in)formar o cliente da sua natureza arquitetónica e técnica, e, posteriormente, face à informação recebida, o cliente entra num processo de consciencialização sobre a rentabilização que tem que ser feita, tanto ao nível humano e social, como ao nível económico e cultural, do investimento que será feito. Desse processo, resulta o conceito e o enquadramento histórico, numa tentativa do arquiteto poder tomar opções arquitetónicas contemporâneas e que melhor se adequam ao cliente. Inversamente, quando o cliente é institucional, os arquitetos colocam-se do ponto de vista do cliente e criam os limites, o que, segundo a dupla, é mais difícil. “É preciso simplificar. Estes processos são evolutivos, longos e trabalhosos. Dependem de diversos fatores, nomeadamente, o programa, o sítio de intervenção, os processos legais e o capital disponível para a obra a realizar, o que nem sempre é determinante para a qualidade final do projeto”.
Uma arquitetura autoral
“Não consideramos que temos um traço próprio, mas temos a nossa própria linguagem, que está em constante mutação, integrada na cultura arquitetónica contemporânea. Acreditamos numa arquitetura bem concebida, autoral e que reflita a nossa prática profissional, com o objetivo de responder, de forma exemplar, aos desafios atuais, sem nunca pôr de parte a memória, a tradição e o lugar. Valorizando os principais materiais de construção da arquitetura como a ‘ideia, a luz e a gravidade’. Estes valores influenciam a nossa forma de pensar a arquitetura, porque acreditamos na contemporização e reinterpretação dos valores poéticos da tradição e da memória, sempre adaptados e contextualizados às vontades e vivências de cada cliente”, destacam Pedro e Lubélia.
Um futuro repleto de projetos
A intensidade turística tem evoluído exponencialmente em Portugal, nomeadamente, em Lisboa, no Porto e Algarve. “O turismo foi fundamental para que houvesse uma maior procura pela identidade de espaços que acrescentam valor na melhoria da paisagem, das cidades e da vida das pessoas”, assumem. Por conseguinte, verificou-se um crescimento progressivo no setor construtivo, particularmente, na área da reabilitação urbana e, de igual modo, um impulso na arquitetura. “Daqui a uns anos, imaginamo-nos a comunicar o nosso trabalho em apresentações públicas, publicações e exposições dos novos projetos”, finalizam.