“Com resiliência, iremos vencer”
Mário Jorge Nunes, presidente da Câmara Municipal de Soure, não tem dúvidas: este foi o mandato mais difícil dos dois que cumpriu como presidente desta Autarquia do distrito de Coimbra. Contudo, apesar de reconhecer as dificuldades e todos os constrangimentos que a atual pandemia provocou, o autarca está confiante que de “com resiliência, iremos vencer esta luta”.
Olhando para trás, Mário Jorge Nunes, presidente da Câmara Municipal de Soure, reconhece que este foi um mandato muito atribulado a começar logo pelas diversas intempéries que Soure teve que enfrentar a juntar aos grandes incêndios florestais de 2018 que fustigaram a região. “Estes fatores destabilizaram muito a região e condicionaram as candidaturas aos fundos comunitários no âmbito do Portugal 2020. Teve que existir solidariedade e os concelhos mais afetados tiveram que obter uma maior ajuda”. Contudo, o autarca reconhece que, no caso de Soure, mais do que os incêndios, os condicionalismos vieram com as diversas intempéries sofridas, como as cheias que provocaram avultados estragos tanto no setor público, como privado, sendo que a agricultura foi uma das áreas mais atingidas.
O aparecimento da Covid
“Depois veio a pandemia e essa afeta e irá continuar a afetar muito daqueles que eram os objetivos que tínhamos delineado quando tomamos posse em 2017. Tínhamos realizado uma grande aposta na promoção no turismo, mais concretamente no turismo natureza e no turismo patrimonial, setor que nunca tinha sido promovido e que estava deficitário em Soure, apesar de todas as nossas potencialidades”, explica o edil que viu reconhecidos os seus esforços quando, em 2019, o concelho atingiu as 22 mil dormidas.
Mário Jorge Nunes reconhece que esta melhoria no setor do turismo só foi possível por força dos investimentos hoteleiros realizados “e que agora deram relevo e escala a todas as iniciativas que já eram levadas a cabo no concelho, ao nível do turismo rural, do agroturismo e do turismo de habitação. Mais recentemente, a hotelaria ligada ao termalismo também veio potenciar a nossa força em termos de imagem e de uma procura dirigida para a saúde e para o bem-estar. Porém Soure é ainda uma referência na promoção de grandes eventos e dos estágios das mais diversas equipas desportivas que descobriram neste concelho uma mais-valia. Também não podemos olvidar o facto de que Soure é já uma referência internacional na escalada, modalidade onde somos uma referência em equipamentos e lugares de prática no nosso País. Estamos no mapa europeu e somos passagem obrigatória de muitas seleções com capacidade financeira para ficarem no concelho durante 15 dias”.
O autarca assevera que todo o otimismo de 2019 deu lugar à frustração em 2020, uma vez que “a Covid fez com que diversas unidades hoteleiras tivessem que fechar, tendo acontecido o mesmo à atividade termal. Para além disso, as modalidades coletivas não foram permitidas durante muito tempo, fatores que causaram grandes constrangimentos no turismo, num concelho que que dava os seus primeiros passos de afirmação nesta região”.
O edil advoga que, em Soure, a pandemia tem que ser avaliada em dois períodos completamente distintos. O primeiro, de março a 31 de outubro de 2020, “contemplou uma mobilização muito ativa e de grande entreajuda entre o município, presidentes de junta e todos os líderes locais, empresários e entidades competentes locais da área da saúde, o que permitiu o controlo da pandemia, com números sempre muito abaixo da média nacional e dos números verificados na região. O segundo surgiu em novembro, quando a situação se complicou e o concelho atingiu os números da média nacional, realidade explicada pelo facto da nossa população ser muito envelhecida e de, atualmente, as pessoas conhecerem melhor a doença e já não a temerem da mesma forma, o que faz com que o confinamento não seja tão eficaz, até porque as regras também não foram tão apertadas como aconteceu da primeira vez”.
Apesar de reconhecer as dificuldades, Mário Jorge Nunes garante que a atuação da Autarquia foi sempre muito assertiva, assegurando que a pandemia já teve custos diretos e indiretos para o município de mais de 700 mil euros. O autarca explica que o Executivo interveio, desde logo, junto das instituições particulares de segurança social (IPSS) do concelho, o que fez com que se tivessem mantido com poucos casos até à chegada do inverno. Para além disso, “substituímo-nos ao Estado na educação, com o fornecimento de equipamentos informáticos com ligação à internet; na ação social, por exemplo, com o fornecimento de refeições às famílias mais carenciadas; na saúde, na proteção civil, entre outros, sendo que nos períodos de maior necessidade, tivemos que afetar muitos serviços e recursos municipais a este combate. Fomos também pioneiros no apoio à retoma económica, com atribuição de apoios diretos às micro e pequenas empresas localizadas no concelho, esforço que já estamos a replicar em 2021”.
Quanto à campanha de vacinação, o edil explica que o Executivo realizou um esforço atempado para que o apoio fosse o mais direcionado e efetivo possível, sendo que, para isso transformou um pavilhão multiusos municipal num espaço equipado e preparado para este efeito. “Cada dia de vacinação significa a afetação à campanha de três a quatro dezenas de funcionários municipais, entre proteção civil, assistentes operacionais e técnicos, uma vez que participamos nas ações de secretariado, vigilância, triagem, higienização dos espaços e também asseguramos o transporte gratuito a todos os munícipes que dele necessitem. Fomos um dos primeiros municípios do País a garantir as condições necessárias para transporte e vacinação de acamados. De ressalvar que, apesar do nosso envolvimento próximo, não interferimos com a listagem de pessoas contactadas para a vacinação, sendo essa uma responsabilidade das entidades de saúde. Nós apenas prestamos apoio à sua ação”.
Principais obras em curso
De acordo com o autarca, as obras públicas e a administração pública foram outro dos setores mais afetados pela atual pandemia, o que provocou o atraso em muitos projetos no concelho, “apesar da vontade e dos constantes esforços deste Executivo. Temos vários projetos aprovados e com financiamento comunitário garantido, contudo os processos burocráticos são complexos, exigem estudos e pareceres de diferentes entidades, e as obras não podem avançar enquanto todas as questões não estiveram acauteladas e devidamente asseguradas. Para além disso, muitos dos concursos ficam sem empresas concorrentes ou então concorrem apenas uma ou duas empresas que não oferecem garantias de qualidade na sua execução”.
Apesar de todos os constrangimentos e de alguns atrasos, o edil esclarece que já estão no terreno alguns projetos importantes para o concelho e começa por destacar o início da reconversão das piscinas municipais de Vila Nova de Anços, investimento orçado em mais de um milhão de euros. “Esta reconversão é fundamental porque este equipamento foi muito afetado pela tempestade Leslie, em 2018, estando encerrado desde então. Espero que a obra esteja concluída até ao final do presente ano”, explica Mário Jorge Nunes que advoga que está já em finalização a requalificação do mercado municipal.
O autarca assevera que o principal investimento a realizar no concelho em 2021, de cerca de um milhão de euros próprios e recurso a fundos comunitários, será a criação do Centro de Inovação Social, projeto que vai ocupar o antigo quartel da GNR, que irá funcionar como uma “incubadora de empresas na área social, inovação e novas tecnologias”.
No que se refere ao ambiente, de acordo com o edil, a Autarquia vai investir mais de 800 mil euros no tratamento e recolha de resíduos urbanos, com a implementação de um sistema porta-a-porta e de novos mecanismos de recolha de biorresíduos, enquanto que, no setor da água e saneamento, as intervenções estão delegadas às Águas do Baixo Mondego e Gândara (ABMG), que prevê investir cerca de quatro milhões de euros no concelho de Soure, nomeadamente no saneamento da zona central da freguesia de Samuel e na zona sul da freguesia de Soure, para além de realizar a melhoria do sistema de controlo de perdas de água.
Quanto à rede viária, Mário Jorge Nunes revela que o município prevê melhorar os acessos à Zona Industrial de Soure, numa intervenção orçada em 400 mil euros, entre outras intervenções, como a ligação da sede do concelho à autoestrada, “projeto em que avançamos com recurso a fundos municipais, uma vez que, de outra forma, não teríamos conseguido concretizar a obra. Apesar disso, de realçar que cada uma das seis etapas deste projeto está orçada em mais de um milhão de euros”.
Futuro promissor
Apesar de todas as contrariedades e desafios, o autarca garante que objetivo do Executivo sempre foi dotar o concelho de um conjunto de mais-valias que ofereçam garantias de instalação de novas empresas, a médio prazo. Assim, “demos início a um processo de atratividade de investimento, alicerçado no nó rodoferroviário de Alfarelos/Granja do Ulmeiro, importante interceção da Linha do Oeste com a Linha do Norte, com ligação à Linha da Beira Alta e com excelentes acessos rodoviários. Esta centralidade permitiu a Soure o nascimento da Plataforma Logística Rodoferroviária de Alfarelos/Granja do Ulmeiro que, neste momento, é de extrema importância para o tráfego de mercadorias internacionais entre Portugal e a Europa. Esta mais-valia faz com que sejamos agora procurados por um conjunto diversificado de empresas que aqui se querem instalar. Este aumento da procura faz com que, atualmente, a nossa oferta de terrenos disponíveis licenciados para indústria seja deficitária, acontecendo o mesmo com os hangares ou armazéns disponíveis para este tipo de atividade. É por isso que vamos apostar fortemente no desenvolvimento, criação e aumento das nossas zonas de localização empresarial, sendo que vamos criar uma nova área junto ao IC2, uma outra a Sul da freguesia de Soure e uma terceira a Norte para apoio ao setor logístico”.
O edil assevera que, nos últimos anos, o município também tem vindo a desenvolver várias intervenções no sentido da qualificação e revitalização urbana na Vila de Soure. Contudo, “apesar dos investimentos realizados, numa perspetiva de reabilitação urbanística e ambiental, a vila debate-se com a necessidade contínua de dinamizar o espaço urbano e de lazer que, acompanhado do abandono e progressivo envelhecimento populacional, se tem traduzido numa perda da dinâmica populacional, económica e social”. Assim, Mário Jorge Nunes aposta num Projeto de Reabilitação Urbana da Vila de Soure que preconiza uma intervenção a vários níveis – no espaço público, nas infraestruturas, nos equipamentos e no edificado – criando condições que motivem a sua recuperação e reabilitação de edifícios. “Este é outro processo que parou devido à pandemia e que pretendemos retomar logo que possível”, conclui.