Território único, em harmonia com a Natureza

Rute Silva assumiu funções como presidente da Câmara Municipal de Vila do Bispo apenas em maio de 2021, por renúncia ao mandato do anterior presidente, Adelino Soares, que passou a assumir funções de vogal executivo no Conselho de Administração da empresa Algar – Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos, SA. Com 11 anos de experiência na vice-presidência do Município e em diversos pelouros, a autarca encontra-se agora preparada para liderar o futuro deste concelho único, onde se vive em comunhão com a Natureza.
“Foi com imensa honra que assumi o cargo de presidente da Câmara Municipal de Vila do Bispo, responsabilidade que garanto cumprir com presença, dedicação, humildade e sentido de missão. Serão apenas alguns meses que anunciam, já, a viragem num percurso de quase 12 anos como autarca neste Município”, garante Rute Silva na sua declaração de tomada de posse, aproveitando para felicitar a eleição do anterior presidente como vogal executivo do Conselho de Administração da Algar – Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos, SA., em representação da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), desejando-lhe as maiores felicidades nesta nova missão. Apesar disso, a autarca não deixou de transmitir alguma surpresa e “profundo desagrado pela forma despropositada como decorreu a sua saída, sem comunicação prévia, nem qualquer passagem de testemunho à sua equipa, situação que registo como sendo da maior gravidade. Ainda assim, esse capítulo está encerrado e estou agora focada em dar continuidade aos diversos projetos em curso, corrigir alguns dos problemas identificados, desbloquear situações pendentes e contribuir para a constante melhoria e alcance dos serviços prestados por este Município à sua população, sempre com um elevado sentido de dever público”.
Relativamente ao seu executivo camarário, Rute Silva manifestou “sentida gratidão pelo incondicional apoio e amizade manifestados pelos vereadores que me acompanham a tempo inteiro, bem como toda a confiança que tenho nos restantes membros deste Executivo. Acredito que iremos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance no sentido de privilegiarmos uma governação harmoniosa e democrática. Por fim, uma palavra para os funcionários desta Autarquia. A imagem do nosso concelho e desta instituição depende de todos nós. Acredito que juntos, competentes e empenhados, faremos deste território um lugar ainda melhor”.
Pandemia: desafio difícil de ultrapassar
A autarca reconhece que o atual mandato foi repleto de desafios inéditos, até porque, durante mais de um ano e meio, teve que combater uma pandemia. Questionada sobre os apoios que o Município atribuiu à população, a autarca explica que, desde logo, o executivo disponibilizou e equipou três ZAP – Zona de Apoio à População, locais de resposta coletiva de alojamento de emergência. “Felizmente, no decorrer da pandemia, só um destes equipamentos foi efetivamente necessário, contudo, a resposta existe e encontra-se pronta para qualquer eventualidade. Este espaço albergou pessoas contaminadas com Covid-19 ou que tiveram de ser isoladas em quarentena, por não reunirem condições adequadas em suas casas ou por não terem qualquer retaguarda familiar. Também adquirimos 20 camas articuladas e colchões, caso fossem necessários”. Rute Silva acrescenta que, neste momento, uma das ZAP ainda está em funcionamento, “uma vez que sabemos que esta pandemia é bastante volátil e que a realidade pode mudar rapidamente e a qualquer momento, apostámos numa estratégia de prevenção ativa”.
De acordo com a presidente, o Município também disponibilizou um serviço de entrega de alimentos e de medicamentos a pessoas confinadas, “tudo para que tivessem as suas necessidades asseguradas, por forma a que o cumprimento do isolamento profilático fosse cabalmente garantido. Além do suporte direto às diversas IPSS existentes no concelho, prestámos apoio à população na realização de testes, designadamente com o seu transporte através de uma parceria estabelecida com a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vila do Bispo, e na distribuição de equipamentos de proteção individual, com especial enfoque entre os munícipes mais idosos”.
Rute Silva sublinha que o Município também criou uma linha de apoio psicológico e social para ajuda à população do concelho, durante a pandemia. “Sabemos que algumas famílias perderam os seus rendimentos, pelo que o acesso à alimentação tornou-se em alguns casos problemático. Antes da crise pandémica, o concelho de Vila do Bispo detinha uma taxa de desemprego das mais baixas do nosso País, realidade entretanto afetada pelo impacto da atual conjuntura no setor do turismo, em particular na hotelaria, restauração e outros operadores. Assim, adquirimos cabazes que distribuímos pelos mais necessitados. Numa segunda fase, através da parceria com a Segurança Social e com a ajuda do Banco Alimentar, conseguimos reforçar o apoio que prestámos a estas pessoas e famílias. Porém, fruto da frágil situação económica em que se encontra o País, o próprio Banco Alimentar demonstrou algumas dificuldades no abastecimento completo destes cabazes, daí que tenhamos avançado com a aquisição de produtos alimentícios para garantir as entregas. Complementarmente, reforçámos a nossa oferta ao nível da cantina social, em articulação com a Santa Casa da Misericórdia de Vila do Bispo, decisão que se demonstrou acertada pelo seu efeito positivo”.
De acordo com a autarca, na primeira fase da Pandemia, o Município também procedeu à desinfeção de alguns edifícios e espaços públicos, incluindo o exterior de estabelecimentos comerciais como supermercados, postos de combustível, quiosques e similares, entre outros, sendo também reforçadas as medidas de higienização, através da lavagem de espaços e equipamentos públicos. “Temos vindo a apostar numa estratégia de prevenção pela informação e sensibilização, transmitindo à comunidade que o sucesso do combate a este vírus depende de todos e de cada um de nós. Trata-se de um combate coletivo, mas sobretudo individual, expresso nos nossos comportamentos individuais e na relação com as pessoas com quem diretamente convivemos no quotidiano familiar, profissional e comunitário”. Por fim, no que concerne às escolas, a Autarquia cumpriu escrupulosamente todas as normas recomendadas e impostas pela DGS – Direção Geral da Saúde, sendo que o Executivo reforçou o apoio possível para que as crianças e jovens mantivem o acesso a um ensino de qualidade, mesmo na modalidade de ensino à distância.
No que diz respeito à campanha de vacinação, Rute Silva garante que esta tem decorrido de forma muito positiva e destaca que o Município tem vindo a trabalhar em parceria com a ARS – Administração Regional de Saúde do Barlavento, no sentido de prestar apoio no contacto e agendamento da inoculação da vacina. “Também aqui apoiamos os nossos munícipes no seu transporte para o centro de vacinação, sempre que necessário. Prestamos esse auxílio às pessoas de mobilidade mais reduzida, mas também a muitas outras, uma vez que reconhecemos que os horários dos transportes públicos nem sempre se coadunam com as necessidades da comunidade”.
Segundo a autarca, o facto de Vila do Bispo ser um território extremo e de baixa densidade populacional ajuda bastante nesta luta. “A nossa realidade geográfica e demográfica é muito específica, com dinâmicas sociais completamente diferentes dos centros urbanos e da litoralidade algarvia e nacional. Somos cerca de 5.000 habitantes, dispersos em quatro freguesias, duas vilas e nove aldeias, agregados populacionais sem qualquer contiguidade urbana. Mesmo considerando a população flutuante e os fluxos turísticos, existem poucos focos de concentração demográfica que nos preocupem. Todavia, a matriz de risco nacional não beneficia estes territórios de baixa densidade, sendo que facilmente se ultrapassa a fasquia que obriga ao profilático confinamento e ao encerramento de atividades económicas associadas à indústria turística. Esse é um dos nossos maiores receios, pois, num território eminentemente dependente do turismo, encontrando-se este setor bastante afetado, as empresas locais anseiam pela retoma da estabilidade nas suas atividades. Estamos atentos à evolução da situação e preparados para atuar, apoiando o tecido empresarial naquilo que se encontra ao alcance e na esfera de atribuições da Autarquia”.
Uma referência nacional
Rute Silva assegura que, em tempos de pandemia, nem tudo foi mau no setor do turismo local. O potencial das nossas paisagens, a riqueza do nosso património natural e cultural, a qualidade e a diferenciação da oferta, a resiliência e a capacidade de adaptação aos novos desafios demonstradas pelos empresários locais e respetivos staffs constituem fatores determinantes para a mitigação dos efeitos desta crise inédita e de escala global. Por exemplo, a autarca sublinha que Vila do Bispo é um dos mais importantes pontos de passagem nas rotas migratórias de várias espécies de aves que anualmente, no final do verão, abandonam o continente europeu a caminho de África. “Este incrível fenómeno, único em Portugal, permite a observação, em quantidade e variedade, de espécies como rapinas e planadoras de grande porte, onde se destaca o grifo, o abutre-do-Egito e a cegonha-preta, entre muitas outras, mais pequenas e discretas, mas de grande beleza. Assim, no primeiro fim de semana de outubro, todos os anos, o nosso já famoso Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza recebe milhares de aficionados e curiosos da ornitologia, oriundos de todo o Mundo, tal como amantes da Natureza e das caminhadas que são convidados a participar num vasto programa de atividades que vão desde ateliers de educação ambiental, passeios de barco para observação de golfinhos ou de aves, passeios de burro ou a cavalo, caminhadas pedestres, minicursos de fotografia, visitas guiadas sobre a História, a Arqueologia e a Geologia de Vila do Bispo e de Sagres, sessões de anilhagem, entre muitas outras. A complementar as atividades de natureza e para proporcionar momentos de descontração, o evento contempla, também, sessões de yoga, atividades para crianças e diversas sugestões gastronómicas e hoteleiras proporcionadas pela rede de parceiros locais. Este não é um evento apenas para experts, mas para toda a família!”.
Desta forma, ainda que com as necessárias adaptações no âmbito da pandemia, a autarca advoga que a 11.ª edição do Festival de Observação de Aves, que decorreu num modelo misto entre atividades presenciais e online, foi um sucesso e que o número de participantes ultrapassou o de anos transatos, “o que muito nos surpreendeu. Foram diversas as famílias que nos visitaram. As pessoas estavam desejosas de saírem de suas casas e de estarem em contacto com a Natureza.
Como as iniciativas decorrem ao ar livre, as pessoas sentiram-se seguras e descontraídas. De forma exemplarmente responsável, os participantes praticamente se esqueceram da difícil realidade pandémica”, assegura a presidente.
Rute Silva enaltece que o êxito desta iniciativa deve-se, em primeira mão, “às aves que frequentam o nosso território, mas também aos participantes, à rede de parceiros locais, às entidades que apoiam e patrocinam o evento, aos voluntários e a todos os envolvidos na organização, destacando-se as equipas da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, da Almargem – Associação de Defesa do Património Cultural e Ambiental do Algarve e, claro, da Câmara Municipal de Vila do Bispo”. A autarca aproveitou ainda para convidar à participação na 12.ª edição do Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza, evento que decorrerá em Sagres, de 1 a 5 de outubro.
Em primeiro lugar as pessoas
Quanto ao futuro, a autarca não tem dúvidas: o foco estará sempre nas pessoas, no bem-estar e na satisfação da comunidade. “A nossa prioridade passará por áreas de maior sensibilidade no que respeita à população. Refiro-me, por exemplo, ao transversal problema da habitação, contrapondo e concretizando soluções locais que potenciem a fixação de pessoas. Em consequência do mercado-livre, da especulação imobiliária e da excessiva dependência relativamente à indústria turística, a disponibilidade de habitação e os valores das rendas praticados impede muitas pessoas e famílias de se fixarem no concelho de Vila do Bispo, sobretudo os mais jovens e os menos capacitados financeiramente. Este problema repercute-se, por exemplo, na dificuldade em estabelecer quadros qualificados para o desempenho de funções específicas, o que inviabiliza a fixação destas pessoas ou obriga a que estas se desloquem para ou optem por concelhos vizinhos. Queremos desenvolver mecanismos que contribuam para a atração e fixação de população, sobretudo de jovens que queiram constituir família neste território, pessoas que cumpram lacunas em determinadas áreas profissionais e, muito em especial, todos aqueles que queiram aqui viver e que ainda não conseguiram reunir as condições necessárias à realização desse sonho, e que são muitos, sabemos!”. Nesse sentido, Rute Silva revela que a Autarquia já adquiriu terrenos onde em breve poderá avançar com a construção de bairros habitacionais a custos controlados e rendas apoiadas. “Neste momento estamos a definir o Plano Habitacional Concelhio, documento estratégico que nos permitirá concorrer a fundos comunitários por forma a que este investimento seja realizado de forma mais célere e sustentável do ponto de vista financeiro”, acrescenta.
Paralelamente, a presidente reitera que quer apostar na sustentabilidade. “Queremos que Vila do Bispo se afirme, a nível nacional e internacional, enquanto referência nas boas práticas e na sustentabilidade ambiental, energética e económica, contribuindo para as metas globais do Acordo de Paris e para o derradeiro combate às alterações climáticas, no sentido da conservação do nosso Planeta e dos seus habitats para as gerações do Futuro. Sabemos que Vila do Bispo integra um Parque Natural com diversas áreas protegidas. Também sabemos que são os proprietários e as próprias autarquias que realizam o esforço na conservação do Património Natural do nosso País, pelo que deveriam ser de alguma forma compensados. Ainda assim, será hoje consensual admitir que é este nosso património, paisagístico, ambiental e cultural, que alimenta a economia local, pois é responsável pela atração de milhões de visitantes que, por ano, procuram o cabo do fim-do-mundo, o último pôr do sol continental, a Fortaleza e a Vila do Infante, as nossas praias, as nossas tradicionais aldeias piscatórias, como Burgau e a Salema, a qualidade da nossa gastronomia, os percebes e o pescado, no todo um conjunto de excecionais recursos patrimoniais que se traduzem em mais-valia económica. Porém, falamos de recursos não renováveis que exigem responsabilidade e uma exploração sustentável, sob o risco de perda irreparável destes nossos preciosos trunfos diferenciadores, de elevada riqueza patrimonial e que queremos conservar para as gerações vindouras”. A este propósito, a autarca adianta que “estamos na fase final do projeto de implementação de uma ecovia e de uma ciclovia que irá percorrer todo o concelho. Para além disso, estamos em fase adiantada na obra de criação do Museu Municipal de Vila do Bispo, o Celeiro da História, investimento que se afirmará como um ex-líbris regional e uma referência nacional. Trata-se de um projeto museológico participativo e inclusivo, que operacionaliza o conceito de “Museu da Paisagem”, convidado a comunidade e todos os visitantes a explorar os contextos patrimoniais in loco, no terreno e nas paisagens do concelho. Esta será uma nova e diferenciada oferta a somar a outras tantas que Vila do Bispo já proporciona, como a Rota Vicentina, a Via Algarviana, as nossas praias, a nossa gastronomia, os nossos alojamentos, uma série de produtos com imenso potencial”.
Mensagem aos munícipes
“Neste momento particularmente difícil das nossas vidas, nunca será bastante apelar ao bom senso, à tolerância e ao respeito pelo próximo, à serenidade e à compreensão da população e ao individual, responsável e rigoroso cumprimento de todas as orientações transmitidas pelas autoridades de Saúde. Nesta batalha os inimigos são muitos e invisíveis, todos somos fundamentais e ninguém pode ficar para trás. Apesar das adversidades, quero deixar uma convicta mensagem de otimismo e muita esperança nas Pessoas e no Futuro. Vivemos inéditos tempos de mudança que exigem união, perseverança, altruísmo e solidariedade. Acredito que juntos faremos desta nossa terra um lugar ainda melhor para viver e ser vivido. Viva o concelho de Vila do Bispo!”.