Ouro líquido transmontano

A MC Rabaçal & Aragão, Lda. nasceu da união de duas importantes famílias, os Rabaçal e os Aragão. Hoje, a empresa constitui-se como uma das maiores e mais representativas casas no sector de produção da Terra Quente Transmontana. Desde a sua origem dedicada à agricultura, esta casa conta mais de 230 anos de tradição na produção de um azeite de suave sabor e rico aroma, o verdadeiro ouro líquido transmontano.
Apesar de ter sido criada apenas em 2003, a MC Rabaçal e Aragão, Lda. existe já desde 1764, ano em que a família Aragão criou o seu primeiro lagar de produção de azeite. Em 1961, quis o destino que um Aragão se enamorasse por uma Rabaçal, dando assim início a uma vida dedicada à produção de um azeite “que reflete as nossas origens, a variedade de povos e culturas que aqui existem, um azeite que reflete aquilo que somos, a nossa alma e a nossa essência”, explica Artur Aragão, CEO responsável por este projeto. Com sede no coração de Trás-os-Montes, mais precisamente em Alfândega da Fé, esta empresa, de cariz familiar, tem sabido aliar tradição e qualidade.
Com azeitonas provenientes dos olivais do concelho de Alfândega da Fé, do Vale da Vilariça e das encostas do Rio Sabor e Tua, os azeites produzidos pela MC Rabaçal e Aragão resultam da perfeita combinação entre as variedades verdeal transmontana, verdeal, madural, cordovil e cobrançosa, sendo estas reconhecidas pelo selo de Origem Protegida DOP Trás-os-Montes. Neste momento, a empresa produz e comercializa os azeites: Dona Maria do Carmo, Solar de Lodões, Alfandagh, Ouro Líquido, Casa Aragão, Casal da Vilariça e ainda produz a marca própria de vários clientes. O CEO assegura que estes provêm de azeitonas criadas em solos e clima característicos, aliados ao saber fazer tradicional da região, que se consubstancia no modo de condução das árvores, apanha da azeitona e extração do azeite, o que lhes confere a tipicidade e características qualitativas que os permitem distinguir dos demais. “Como são obtidos com pressão a frio, os nossos azeites revelam baixa acidez e cor dourada, para além de um sabor a frutos frescos muito agradável. São ainda excecionalmente amargos e picantes, o que os diferencia dos seus concorrentes. Este azeite é tão único que não conseguimos reproduzir o seu sabor e fragância na totalidade de um ano para o outro, tudo depende da variedade de azeitona predominante nesse ano”, assevera o Artur Aragão.
Ao peso de toda a tradição e do saber fazer que foi herdado de geração em geração, a empresa soube ainda aliar com mestria a inovação e a tecnologia assegurando, assim, qualidade extrema em todas as fases do processo produtivo dos diversos produtos que coloca no mercado.
A excelência do biológico
A MC Rabaçal e Aragão dispõe ainda de azeite de elevadíssima qualidade, azeite proveniente da agricultura biológica. “Este é um produto oriundo exclusivamente de agricultores biológicos, que são controlados e fiscalizados pela SATIVA – entidade certificadora, sendo que este tipo de agricultura não recorre a quaisquer adubos químicos ou pesticidas de síntese, o que faz dele um produto natural que não causa problemas ao homem e ao meio ambiente”, advoga Artur Aragão que explica que a produção de azeites biológicos obriga a diversos condicionalismos importantes, designadamente a manutenção do fundo de fertilização dos solos, a utilização de rotações adequadas e o respeito por normas fitossanitárias e de fertilização muito restritas. A pensar nos benefícios que o azeite acarreta para a saúde e sobretudo nos mais pequenos a empresa lançou ainda o primeiro azeite biológico concebido especialmente para bebés e crianças, o Alfandagh Kids.
Sempre a inovar e a surpreender, a empresa lançou em 2013 um novo produto que superou todas as expectativas quando, ao tradicional azeite, foram misturadas folhas de ouro de 23 quilates comestíveis. Continuando na senda da inovação em 2016 a empresa lança o Azeite em Pó com Ervas Aromáticas, arrecadando com este produto o segundo lugar no Prémio Nacional de Inovação. Os azeites produzidos pela MC Rabaçal & Aragão Lda já nos habituaram à sua qualidade por excelência o que é comprovado pelas dezenas de prémios internacionais que arrecada todos os anos.
A casa também produz azeitonas e uma grande variedade de frutas e está presente no mercado nacional através da produção de produtos biológicos e DOP de marca branca para alguns hipermercados. “Felizmente, muitos empresários deste setor já perceberam que um azeite apenas de preço não dá resposta às necessidades dos clientes e começaram também a apostar na qualidade”, esclarece o CEO.
Uma referência além-fronteiras
Com uma equipa composta por 11 pessoas e com um volume de faturação, em 2020, que superou os dois milhões de euros, a MC Rabaçal e Aragão há muito que deu início ao seu processo de internacionalização. Hoje em dia, cerca de 80 por cento do seu volume de faturação resulta da exportação para mercado como o Brasil, Japão, Alemanha, França, Suíça, Luxemburgo, sendo que a empresa está a começar a explorar os mercados do norte da Europa, nomeadamente Dinamarca e Noruega. Uma das apostas que desenvolve no momento é a aposta no mercado KOSHER, tendo já os seus produtos certificados para este mercado tão vasto e exigente.
“Ao contrário de muitas outras empresas, conseguimos crescer em tempos de pandemia, em resultado da mudança do paradigma comercial que implementámos em 2018. Até essa data, o nosso foco eram as pequenas lojas de produtos gourmet e a produção de produtos diferenciados como o azeite com ouro ou o azeite especial para crianças. Hoje, ainda que mantenhamos a produção desse tipo de produtos, apostamos noutros mercados, com a comercialização de um produto com um maior valor agregado: o azeite biológico”, informa Artur Aragão que explica o porquê desta aposta: “Sempre que surge uma crise, a classe média e a classe média-baixa são as que mais sofrem. Como o nosso azeite está vocacionado para uma classe média-alta e alta acabamos mais protegidos. Para além disso, como este é um produto agroalimentar, estivemos sempre a trabalhar, mesmo durante os períodos de confinamento, naquilo que melhor sabemos fazer: a produção de azeites de qualidade. Esta é a única forma possível para uma empresa do Interior do País se conseguir manter operacional no mercado”.
O CEO defende mesmo que a MC Rabaçal e Aragão nunca poderia competir, ao nível da quantidade e preço, com os produtores espanhóis e do Norte de África. “A elevada quantidade de quem produz a baixo custo é o grande problema de todo o setor agrícola no nosso País. Assim, apostamos na azeitona que já os nossos avós produziam, é aqui que conseguimos marcar a diferença. Não precisamos de inventar nem experimentar nada, os nossos antepassados já o fizeram”. As variedades autóctones, o olival tradicional, aliados ao regadio e à mecanização possível, são a forma de tornarmos este sector economicamente rentável no Interior do nosso país.
O futuro da agricultura
Artur Aragão defende que os produtores devem ser preservados e valorizados, motivo pelo qual a empresa lhes paga o preço mais elevado possível. “Fazemo-lo porque sabemos que, sem eles, não existimos. Os agricultores têm que nos encarar como verdadeiros parceiros e orgulhamo-nos dessa parceria. Neste momento, são já 56 os produtores que colaboram connosco para os mercados de Brasil e Japão, o que faz com que sejamos, atualmente, a empresa portuguesa que mais azeite biológico certifica para estes mercados. No decorrer da última campanha ultrapassámos as 6500 toneladas de azeitona triturada que produziram mais de um milhão de litros de azeite, o que é assinalável”.
Apesar de todo o sucesso, o CEO mostra-se preocupado com o futuro do setor, uma vez que este está envelhecido.
“A maior parte dos agricultores tem mais de 65 anos de idade. Os jovens não querem dedicar-se à agricultura, porque o consideram um trabalho inferior, o que não podia estar mais errado. É a agricultura que alimenta todos os outros setores, sem ela nada funciona. Além disso, a emigração também nos prejudicou e muitos filhos da terra foram para outros países. Foram também muitos aqueles que rumaram aos grandes centros urbanos, onde, nesta época de pandemia, acredito que passem dificuldades, desconhecendo a elevada qualidade de vida que poderiam deter caso tivessem ficado. Aqui temos tempo para apreciar as coisas boas da vida, o ar puro, a tranquilidade, a família, temos tempo para ouvir o chilrear dos pássaros e o riso das crianças”.
No entanto o CEO também lamenta a postura das entidades competentes: “Sempre que há eleições, o discurso é o mesmo. Todos prometem criar condições para que mais pessoas venham para o Interior, quando o expetável seria criarem condições para que os que ainda cá permanecem não sentissem necessidade ou vontade de sair. Como pode alguém querer vir para uma região quando a maternidade mais próxima fica a mais de 100 quilómetros e o hospital mais próximo a 30? Como vamos atrair as pessoas do Litoral para o Interior sem escolas? Só depois de estarem garantidas as condições para quem está aqui não querer sair é que as entidades se deviam preocupar em fazer voltar quem há muito daqui saiu”. Apesar disso, o CEO advoga, contudo, que não é daqueles que defende que o atual estado da agricultura se deve à falta de pessoas disponíveis para trabalhar “até porque nunca me faltou mão-de-obra. Apesar disso, também reconheço que as pessoas têm que ser devidamente recompensadas pelo seu trabalho”.
Artur Aragão defende que o mais importante seria a união de todos os habitantes e políticos do Interior “para que pudéssemos criar um futuro melhor. Infelizmente, os portugueses são pouco de se associarem, desconfiam sempre das intenções do outro e olham apenas para o seu pequeno quintal, não percebendo que juntos seríamos muito mais fortes. Os agricultores são o futuro deste País e do mundo”. O CEO assegura que, em Portugal, a solução passa pela produção “de tudo aquilo que é realmente nosso. O nosso clima não é o ideal para o cultivo de produtos muito mais na moda como os mirtilos ou os pistácios ou outras culturas, sendo que também não detemos mão-de-obra especializada ou estrutura para esse efeito. Temos sempre que escolher a agricultura endógena. Será esse o nosso futuro e não vale a pena inventar. Teremos apenas que aprender a comercializar devidamente essas mais-valias, escolhendo os melhores mercados, criar mais valor agregado. Se assim for, acredito que esta região não terá quaisquer problemas no futuro”.